Mundo

Isabel dos Santos? “Não a vejo como minha rival política”, diz João Lourenço

Quase um ano depois de ter sido reeleito Presidente de Angola e dias antes da visita de António Costa ao país, João Lourenço dá uma entrevista ao Expresso e à agência Lusa em que pede mais investimento português e fala sobre Isabel dos Santos.

Loading...

O Presidente angolano considera que Isabel dos Santos é "apenas uma" entre vários cidadãos e nega perseguição política.

"Eu não a vejo como minha rival política. Perseguição política? Persegue-se um opositor e os opositores do MPLA são conhecidos", afirmou o chefe do executivo angolano, na entrevista.

A empresária e filha mais velha do ex-presidente José Eduardo dos Santos está na mira da justiça em vários países, sob acusações de corrupção e peculato, tendo as autoridades angolanas solicitado, há seis meses, a ajuda da Interpol para localizar e prender provisoriamente Isabel dos Santos, sem que se conheçam mais desenvolvimentos do caso."

"Vamos deixar que a Interpol faça o seu trabalho. Costuma-se dizer que a justiça às vezes é lenta a agir, confiamos na idoneidade e capacidade da Interpol em cumprir o seu papel", disse João Lourenço, acrescentando que "há trâmites a seguir", pelo que é preciso "aguardar pacientemente pelo desfecho".

Manuel Vicente foi “um caso de soberania"

João Lourenço falou também sobre o antigo vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, suspeito de corrupção, sem imunidade desde o ano passado e envolvido num processo sem desenvolvimentos por parte da justiça angolana.

O Presidente angolano disse que se tratou de "um caso de soberania" e que não foi Angola que provocou o que ficou conhecido como "irritante" entre os dois países.

"Foram as autoridades judiciais portuguesas que entenderam levar à barra dos tribunais portugueses um governante daquela craveira. Não estou a imaginar Angola a ter a ousadia, por exemplo, de levar a tribunal um José Sócrates se, eventualmente, ele tivesse cometido algum crime em Angola. Felizmente, o desfecho foi bom (...) se tivesse demorado mais tempo talvez tivesse deixado mazelas, mas devo garantir que não deixou nenhumas", comentou.

Voltar as costas a Álvaro Sobrinho?

Questionado sobre o relacionamento com Álvaro Sobrinho, empresário luso-angolano e antigo diretor do Banco Espírito Santo, em Lisboa e do banco BES Angola (BESA), vincou que precisa de ter motivos para deixar de ter relações com as pessoas.

"Ele não foi julgado, não foi condenado, se ele aparecer aqui não vou virar-lhe as costas com certeza, até prova em contrário é um cidadão livre", respondeu, dizendo que é a justiça que tem de se pronunciar sobre o BESA, tal como em relação aos restantes casos

Cinco anos não chegam para acabar com a corrupção

Quanto à luta contra a corrupção, reconhece que, apesar dos esforços, este problema não vai desaparecer e lembra que está apenas há pouco mais de cinco anos à frente dos destinos de um país que está prestes a celebrar o 50.º aniversário da independência.

"Não se pode esperar que em cinco anos se acabe com a corrupção, nem sei mesmo se algum país acabou, na verdadeira aceção da palavra com a corrupção. Há em todo o mundo", notou, sublinhando que o problema "não é haver corrupção, é haver impunidade".

Visitar Portugal em 2024? “Se eu for convidado, irei com muito gosto"

O Presidente de Angola, João Lourenço, mostrou-se disponível para visitar Portugal em 2024, no 50.º aniversário do 25 de Abril, e a festejar em conjunto os 50 anos da independência do seu país, no ano seguinte.

"Com certeza que estou disponível, tudo depende da vontade das autoridades portuguesas. Se eu for convidado, irei com muito gosto", disse o Presidente angolano.

João Lourenço disponibilizou-se igualmente a convidar o chefe de Estado português a visitar Luanda para uma celebração conjunta dos 50 anos da independência de Angola, que se assinala a 11 de Novembro de 2025.

"Ainda não tinha pensado nisso, porque penso ser sério, ainda faltam dois anos, mas nos 50 anos terei muito gosto em convidar o chefe de Estado português", afirmou.

O que reserva o futuro?

Sobre o futuro do atual presidente de Angola, só o próprio futuro saberá. Mas, de uma coisa João Lourenço tem a certeza: em 2027 vai continuar a servir o seu país “ali ou onde for chamado”.

Para já, o Presidente de Angola receberá, para a semana, o primeiro-ministro português, uma vez que há um novo pacote de cooperação estratégica para assinar.