O comentador da SIC Manuel Poêjo Torres, e o diretor-geral Médicos Sem Fronteira Portugal, João Antunes, analisaram o comentário desta segunda-feira do primeiro-ministro israelita, no qual Benjamin Netanyahu responde ao vídeo de reféns divulgado pelo Hamas. Segundo Manuel Poêjo Torres, o grupo terrorista Hamas “tem tentado travar a população de se dirigir para sul, porque a população é o seu centro de gravidade".
“Sabemos que o Hamas tem tentado travar a população de se dirigir para sul, porque a população é o seu centro de gravidade no financiamento humano das operações, mas também o centro de gravidade da sua defesa - e daí haver essa necessidade de Netanyahu de explicar que ‘tentamos não fazer vítimas colaterais, mas que infelizmente há em todo o lado’ ”, afirma o comentador.
Questionado se havia outra forma de fazer esta, sem a necessidade de utilizar os habitantes da Faixa de Gaza como escudos humanos, o comentador responde “Para ser sincero, a resposta é não”.
“Não é possível especialmente devido à grande densidade da urbana da Faixa de Gaza, nem como à forma como estes combatentes estão misturados com a população. Esta operação é uma operação relâmpago e temos que compreender que não se trata de mais uma operação como aconteceu no passado. ”, justifica.
“Netanyahu já afirmou múltiplas vezes: Israel está em guerra e essa guerra só vai terminar quando essa ameaça para a sobrevivência de Israel desaparecer. E vai desaparecer. No entanto, nesse caminho longo e árduo, infelizmente, mais vítimas civis vão morrer. E isto é dramático, dramático”, acrescenta.
Movimentação da população para o sul
Para o diretor-geral Médicos Sem Fronteira Portugal, a grande preocupação reside na deslocação de pessoas saudáveis, mas sobretudo dos doentes para o sul do enclave de Gaza.
“Estamos a falar de mais de 2.000 crianças e obviamente que podemos estar a falar de justificações e da complexidade de uma guerra com condicionantes. Mas, nunca podemos pôr em questão a ação direta”, sustenta.
João Antunes lança a pergunta “Continua-se sabendo que as consequências que se vai ter sobre essa população serão infinitamente superiores àqueles que são os alvos militares?”.
"Pede-se para as pessoas se deslocarem para o sul, mas então e os médicos vão abandonar os seus pacientes? Pacientes que não se podem mexer, que estão acamados? Para onde é que vão?", inquere.
Segundo o médico, aquilo que a Médicos Sem Fronteira defende é que “estas pessoas têm de ser protegidas. Este é o verdadeiro espaço de neutralidade”.
"Não podemos perante estes cenários, que são verdadeiramente indispensáveis para a ajudar humanitária, continuar a ignorá-los", conclui.