Esta quinta-feira, dia em que foi encontrada sem vida uma refém do Hamas com 65 anos perto do hospital al-Shifa, o major-general João Vieira Borges analisa quais os pontos mais relevantes ao longo dos últimos dias no conflito Israel-Hamas. Para João Vieira Borges o ataque ao hospital al-Shifa.
Segundo Israel, foram encontrados um posto de comando, armamento e combatentes, e é com esse argumento “que corre o risco elevadíssimo de perder na comunidade internacional em termos de imagem”.
“Para Israel tomar uma decisão destas, é porque tem fundamento e informações claríssimas de que existem esses túneis e postos de comandos como irão mostrar. Um hospital como estes é como um hospital de Santa Maria ou São José, ou até maior pelas imagens, portanto eles dizem que ainda vão averiguar, porque estão subterrâneos e é uma área muito grande". explica.
Em que fase da guerra estamos?
“Esta questão das fases da guerra, tem havido grande discrepância sobretudo em Israel. Sabemos que em termos de interesses político-estratégicos para o Hamas, em primeiro lugar era obviamente impedir o acordo com a Arábia Saudita. Em segundo lugar era trazer a questão palestiniana para o debate político […] e em terceiro era criar o terror em Israel, dividir Israel, num período em que estava dividido politicamente”, explica.
Para o general-major, sobretudo desde “ a operação de 7 de outubro”, sendo considerada uma primeira fase, “na prática, eles [o Hamas] estão a cumprir esse objetivo, até porque depois conquistaram reféns”.
Telavive rejeita resolução das Nações Unidas
O chefe da missão humanitária das Nações Unidas, Martin Griffiths, apresentou esta quarta-feira um plano de dez pontos para pôr termo "à carnificina em Gaza, onde todos os dias se atingem novos níveis de horror". O plano inclui um novo apelo a um cessar-fogo para distribuir ajuda humanitária e facilitar a libertação de reféns.
Para o especialista em estratégica e relações internacionais, os principais objetivos das forças de Defesa de Israel são, em primeiro lugar, a destruição do grupo terrorista Hamas, depois a recuperação dos reféns e por fim a defesa do país, ainda que “o segundo grande objetivo não esteja a ser cumprido”.
“[Os reféns] para o Hamas são uma defesa, para poderem negociar; para Israel, independentemente do Conselho de Segurança com os Estados Unidos apoiarem a troca de reféns e haver um corredor humanitário, Israel recusa, mesmo com os EUA com esta posição. Como disse o ministro da Defesa de Israel, está a ser também um jogo psicológico feito pelo Hamas”, clarifica.
Reféns: líder da oposição pede demissão de Netanyahu
Na opinião do major-general, o facto de o exército israelita ainda não ter conseguido negociar o resgate, ou troca, de todos os reféns que estão sob o controlo do Hamas, uma ação primordial para o país, está a tornar-se numa posição contraproducente para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
“Vocês ontem noticiaram as manifestações e hoje foi a oposição a dizer que já acabou o tempo de Netanyahu. O líder da oposição hoje disse que Netanyahu não pode ficar mais no poder, e aquilo que tem mais legitimidade na oposição é mesmo a questão dos reféns”, acrescentou.
Segundo o major-general, “quem acompanha esta situação e é militar, ou está em forças de segurança que está habituado a este tipo de situações, acha muito estranho que até agora não tenham sido recuperados alguns dos 240 reféns".
"Ou seja, se eles tivessem essas informações [da localização dos reféns] já os tinham recuperado; a não ser que os reféns tenham sido para a zona sul", apontando esta segunda hipótese como uma que está a ser estudada.