A fuga de João Rendeiro não é caso único na história mais recente da justiça portuguesa, que muitas vezes tem dificuldade em executar os mandados de detenção internacionais.
Fátima Felgueiras
"Não fugi à justiça. Saí livremente do meu país", dizia Fátima Felgueiras, em junho de 2003.
Foi neste momento que falou pela primeira vez em público, um mês depois de ter saído de Portugal.
Em direto do Rio de Janeiro, explicou por que deixou Felgueiras para trás depois de saber que ia ser presa preventivamente pelo caso conhecido como "Saco Azul".
"Só não regresso hoje porque querem amordaçar-me e impedir-me de me defender em liberdade quando eu ainda nem sequer estou acusada", acrescentava.
Na altura, havia suspeitas de corrupção e financiamento ilegal.
A autarca acabou por voltar a pisar solo português dois anos depois, em setembro de 2005, sendo detida no aeroporto, presente a juiz e aguardando julgamento em liberdade.
Pedro Caldeira
Pedro Caldeira foi o protagonista de um dos maiores escândalos financeiros do país dos anos 90.
Em julho de 1992, o corretor da bolsa fugiu para os Estados Unidos da América e ficou a dever perto de quinze milhões de euros a investidores.
A justiça portuguesa quis julgá-lo, e Pedro Caldeira esteve foragido apenas oito meses até o FBI o prender, num hotel.
Caldeira foi absolvido, mas teve de pagar tudo o que devia.
"Peço desculpa e vou pagar", disse quinze anos depois de praticar os crimes.
Padre Francisco
O padre Frederico é outro dos casos.
Foi condenado a treze anos de cadeia, em 1993, pelo homicídio de um jovem de 15 anos, na Madeira.
O padre estava a cumprir pena, mas fugiu numa saída precária.
Conseguiu apanhar um voo para o Brasil sem problemas no aeroporto e é lá que está desde 1998.
Vale e Azevedo
Vale e Azevedo é o caso mais recente de fuga.
O antigo presidente do Benfica garante que informou a justiça da mudança para Londres, onde vive desde 2018, por isso, rejeita o título de foragido, mas a justiça portuguesa acusa dificuldades em notificá-lo para se apresentar em tribunal para responder nos processos que estão pendentes.
A dificuldade dos pedidos de extradição
Os pedidos de extradição são normalmente complexos, mas não são impossíveis de executar, mesmo quando não há convenção com Portugal.
"Pode perfeitamente inexistir um tratado ou convenção, mas existir um pedido da justiça portuguesa à justiça desse Estado, e esse Estado responder positivamente a esse pedido de extradição do Estado português. Portanto, a convenção é apenas para regular para o futuro todas as situações que aconteçam", diz o advogado Paulo Saragoça da Matta.
Atualmente, Portugal tem convenções com a maioria dos países, só não existindo com os Estados em que a relação diplomática é mais distante.