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Motorista de Eduardo Cabrita acusado de homicídio por negligência 

O carro seguia a 163 quilómetros por hora. Motorista ficou com termo de identidade e residência até ao julgamento.

18 de junho: o carro onde seguia o ministro da Administração  Interna, Eduardo Cabrita, estacionado na A6 após um acidente que acabou com uma vitima mortal por atropelamento. Em dezembro, o ministro pediu demissão.
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O motorista do ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita foi acusado de homicídio por negligência, no caso do atropelamento mortal de um trabalhador na A6. A SIC Notícias teve acesso à acusação do Ministério Público que concluiu que "houve total inobservância das precauções exigidas pela mais elementar prudência".

Na viatura, além do ministro e do motorista, seguiam mais três pessoas, uma delas um tenente-coronel de Infantaria da GNR, que é oficial de ligação no gabinete do ministro.

O carro seguia a 163 quilómetros por hora, quando ocorreu o atropelamento ao quilómetro 77 da A6, no sentido Estremoz-Évora, pelas 13h08.

O processo correu no Departamento Central de Investigação e Ação Penal de Évora e já não está em segredo de Justiça.

A acusação do Ministério Público, a que a SIC Notícias teve acesso, diz que o motorista Marco Pontes, o único acusado no processo, "agiu com total inobservância das precauções exigidas pela mais elementar prudência" e a velocidade a que seguia excedia "em mais de 40 quilómetros/hora" o limite de velocidade "máximo legalmente estipulado para a circulação em autoestradas".

A "comitiva transitava fora das condições de serviço urgente" de interesse público, não fazendo uso da "sinalização legalmente imposta para o efeito", nem sonora nem luminosa, refere ainda a procuradora.

"O acidente e as suas consequências ficaram a dever-se à circunstância de conduzir com manifesta falta de cuidado e de atenção", acrescenta.

No momento do acidente, o carro de Eduardo Cabrita seguia na "via da esquerda e à velocidade de cerca de 163 km/h", refere ainda a acusação, que concluiu também que apesar das obras na faixa direita da autoestrada, o local estava em bom estado e que em nada se justificou a opção pela via esquerda.

"Como resultado da conduta do arguido, o veículo embateu num indivíduo que procedia ao atravessamento da via, provocando-lhe lesões que lhe determinaram a morte", refere uma nota publicada no DIAP de Évora.

Além de homicídio por negligência, o motorista está também acusado de duas contraordenações graves: uma por circular na faixa da esquerda não havendo trânsito e não estando a efetuar uma ultrapassagem e outra por ir em excesso de velocidade.

O motorista Marco Pontes fica com termo de identidade e residência até ao julgamento.

Cabrita diz que "ninguém está a cima da lei"

Na reação à notícia, Eduardo Cabrita afirmou que "é o estado de direito a funcionar" e falou num "repugnante aproveitamento político de uma tragédia".

"Eu sou passageiro. É o estado de direito a funcionar. Temos de confiar no estado de direito, ninguém está acima da lei", disse aos jornalistas, ao ser questionado sobre a sua responsabilidade no incidente.

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ACIDENTE ACONTECEU EM JUNHO

A 18 de junho, o carro em que seguia o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, atropelou mortalmente na A6, na zona de Évora, um trabalhador que fazia a manutenção da via.

O trabalhador tinha 43 anos.

O Ministério Público abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do trabalhador, "como sempre acontece" em acidentes rodoviários com mortos, tendo a GNR iniciado também uma investigação ao caso, tal como o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que instaurou um inquérito interno sobre as circunstâncias em que foi prestado o socorro no acidente.

A que velocidade circulam as viaturas do Governo?

O acidente que envolveu o carro do ministro da Administração Interna relançou o debate sobre a velocidade a que os membros do Governo circulam na estrada. A equipa do Essencial de Conceição Lino fez-se à estrada e constatou velocidades acima dos limites.

Para fazer este trabalho, foram escolhidos aleatoriamente membros do Governo a partir da agenda que os Ministérios enviam para a comunicação social.

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A 7 de outubro, com um carro descaracterizado, a equipa do Essencial seguiu até Oliveira do Hospital, onde Pedro Nuno Santos tinha agenda.

O ministro das Infraestruturas tinha agenda a seguir, às 16:00, no porto de Leixões, mas só saiu de Oliveira do Hospital por volta das 15:00. Com apenas uma hora para fazer quase 200 quilómetros, a velocidade rapidamente sobe muito para além dos limites.

A equipa do Essencial foi também ao encontro de Eduardo Cabrita em Torres Novas e de João Galamba, na autoestrada a caminho do Algarve.

Mais de quatro meses depois do acidente mortal na A6 com o carro em que seguia o ministro da Administração Interna, é Essencial perceber a que velocidade circulam os membros do Governo.

Em julho, o ministro do Ambiente foi filmado por jornalistas a 160km/hora numa estrada nacional e a 200km/h na autoestrada e, na altura, fez uma promessa: “Já fiz a minha contribuição e já falei com quem conduz, que é o meu motorista, e isto nunca mais voltará a acontecer”.

Será que a promessa está a ser cumprida? Até onde chegam os valores dos conta-quilómetros das viaturas oficiais dos governantes?