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39.º Congresso do PSD: o discurso de encerramento (as críticas, promessas e recados) de Rui Rio

O discurso do líder do PSD no encerramento no 39.º Congresso do PSD ficou marcado por apelos ao entendimento, mas também por críticas, recados e promessas, nomeadamente aos professores e profissionais de saúde.

39.º Congresso do PSD: o discurso de encerramento (as críticas, promessas e recados) de Rui Rio
ESTELA SILVA

O presidente do PSD, Rui Rio, destacou no discurso de encerramento do 39.º Congresso do PSD, que decorreu entre sexta-feira e este domingo em Santa Maria da Feira (Aveiro), que um entendimento entre forças políticas é sempre preferível à discórdia e "mera tática partidária". Numa intervenção de quase 40 minutos, houve ainda tempo para críticas ao Governo, recados e ataques, mas também promessas.

Rui Rio no encerramento do 39.º Congresso Nacional do PSD
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Rui Rio entrou na sala, depois da proclamação dos resultados, com todos os presentes de pé e a entoar "PSD", ao som do hino "Paz, Pão, Povo e Liberdade", tendo depois sido exibido um vídeo que terminou com o lema que hoje preenche o palco da reunião magna do PSD: "Novos horizontes para Portugal".

"Como tenho vindo a dizer, encaro como muito relevante, senão mesmo como decisivo para o futuro de Portugal, o diálogo entre partidos políticos", disse, no período dos cumprimentos, uma frase que recebeu palmas dos presentes.

Para o presidente do PSD, "a visão clubística, que trata adversários políticos quase como inimigos", não se coaduna com a forma como vê a atividade partidária.

"Existimos todos para servir Portugal, apenas nos distinguimos na forma de o fazer. Pelo que defendo que sempre que o entendimento é possível, ele é, obviamente, preferível à discórdia e à mera tática partidária de curto prazo", defendeu.

Rio defendeu que "inventar diferenças para lá das que realmente existem, é um exercício inútil para quem coloca os interesses do País à frente dos do seu próprio partido".

Mas também os parceiros sociais foram chamados pelo líder do PSD a esta questão. "Se o diálogo entre partidos é relevante, o diálogo social tem igualmente, em democracia, um papel do máximo relevo. Ser-se social-democrata, é também fomentar o diálogo entre as diversas forças sociais, procurando, sempre que possível, a via do consenso na construção de um país mais justo e mais desenvolvido", enfatizou.

Eleições antecipadas, a consequência do "esgotamento de solução de má memória"

No discurso de encerramento, Rui Rio responsabilizou o PS e a esquerda pela realização de eleições antecipadas, que atribuiu ao "esgotamento de uma solução política de má memória".

"De má memória, porque a sua principal marca identitária era a de uma permanente aposta no presente e a de um notório desprezo pela construção de um futuro melhor e mais sólido para o nosso país", criticou Rio.

O líder do PSD lamentou que o Governo não tenha aproveitado a conjuntura económica favorável para reduzir a dívida pública. "Os larguíssimos milhares de milhões de euros que esta conjuntura permitiu pôr à disposição do Governo, foram, porém, todos delapidados com o claro objetivo do PS de conseguir obter a aprovação dos seus Orçamentos do Estado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda", acusou.

Numa das passagens muito aplaudidas da sua intervenção, hoje perante uma sala cheia, ao contrário da abertura, Rio lamentou ainda que não tenha havido verbas suficientes para apoiar as empresas na recuperação das empresas e das famílias, nem para apoiar o investimento.

"Mas não faltou dinheiro para o Novo Banco, para a TAP ou para perdões fiscais à EDP", insistiu.

A promessa de "atenção especial aos professores" e ao SNS

Rui Rio dedicou uma especial atenção aos setores da educação e da saúde, recebendo o maior aplauso da sala cheia do Europarque quando deixou uma palavra de reconhecimento aos professores, pela sua atuação durante a pandemia de covid-19.

"Não é compreensível que a uma profissão tão decisiva para a formação das novas gerações, ou seja, para o futuro do país, não sejam conferidas a dignidade e as condições de trabalho que merece. Um Governo do PSD terá de dar uma especial atenção aos professores", defendeu, sustentando ser necessário tornar "a profissão mais atrativa par aos jovens", mas também "ser criteriosos e exigentes na sua seleção".

"Considerá-los todos como iguais é, neste como em todos os demais setores da nossa sociedade, não só desvalorizar o mérito e a competência, como ignorar um elemento absolutamente decisivo para o sucesso, que é o brio profissional", afirmou.

O presidente do PSD apontou mesmo a política educativa dos últimos seis anos como "o melhor exemplo do que não deve ser feito", e recuperou uma expressão utilizada pela ex-líder do CDS-PP, Assunção Cristas, que falava nas esquerdas unidas ou encostadas.

"O Governo do PS, e particularmente a esquerda unida, tudo fizeram para mudar o que a muito custo se tinha conseguido. Acabaram com as provas finais de ciclo, aligeiraram o currículo, definiram um perfil do aluno em que o conhecimento e a disciplina passaram a letra morta, desautorizaram os professores, desinvestiram na escola pública, desprezaram o ensino profissional, ignoraram a educação de infância", disse, considerando que estas mudanças "agravaram as desigualdades" entre os alunos.

"Temos de reconhecer que é obra, conseguir tanto mal em tão pouco tempo", criticou.

Como prioridade nesta área, apontou a educação para a infância: "Temos de lançar bem cedo os pilares do futuro; desde o berço ao jardim escola, da creche ao pré-escolar. É necessário um aumento da oferta, especialmente nas áreas metropolitanas, bem como um claro apoio às famílias, de forma a proporcionar a todas as crianças as melhores oportunidades", disse.

Também na saúde, Rui Rio fez um diagnóstico negro da governação socialista, marcado pela "falta de rigor e a gestão por impulsos".

"Falta planeamento, os hospitais têm fraca autonomia, o Governo destruiu as parcerias público-privadas - mesmo as que se revelavam vantajosas - e o serviço público é cada vez menos atrativo para os profissionais de saúde. Como consequência desta política, o SNS não está, objetivamente, a dar resposta satisfatória às necessidades das pessoas", considerou.

Rui Rio defendeu que o SNS precisa de uma reforma "capaz de gerar melhores resultados em saúde e que, articulando-se com as iniciativas privada e social, consiga o necessário aumento da acessibilidade da população, sem perda da qualidade dos cuidados prestados".

"O PSD, como partido personalista, não pode deixar o Serviço Nacional de Saúde à sua sorte, e, muito menos, seguir a mesma lógica da esquerda mais radical, que, proclamando querer salvá-lo, apenas tem contribuído para a sua degradação", disse.

Os apoios sociais "indevidos" e a "revolução" nas reformas

"Não é aceitável um país com a sua classe média sufocada em impostos e em que o seu salário de referência pouco se distingue do mínimo em vigor. Assim como também não é racional manter apoios sociais a quem os usa para se furtar ao trabalho e, dessa forma, condicionar a própria expansão empresarial que, cada vez mais, se lamenta da falta de mão de obra disponível", afirmou Rio, sendo muito aplaudido.

Para o presidente do PSD, "os apoios sociais são socialmente indispensáveis, mas apenas para quem deles verdadeiramente necessita, e não para quem os recebe indevidamente".

"Tem de haver uma fiscalização adequada para que possamos garantir, simultaneamente, justiça social e progresso económico. Em síntese, precisamos de um novo Governo com coragem para levar a cabo as reformas que nos diversos setores da nossa vida coletiva se apresentam como necessárias", disse.

Rio reiterou a vocação reformista do PSD, mas deixou um compromisso. "Não vamos, por isso, fazer nenhuma revolução, nem vamos destruir tudo o que os outros fizeram. Queremos apenas, de forma sensata, mas corajosa e realista, desenvolver o nosso país e voltar a trazer a esperança aos portugueses", afirmou.

O presidente do PSD terminou a sua intervenção citando o antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que dizia que "um homem com convicção pode superar uma centena de outros que apenas têm opinião".

"A convicção de que este país, ancorado na sua secular existência, não pode estar condenado à estagnação, nem a ser um parente cada vez mais pobre da União Europeia (...) Temos de acreditar que o Portugal do século XXI, pode voltar a ser grande. Tão grande quanto a dimensão da sua História", exortou.

Na plateia além de dirigentes e militantes sociais-democratas estão hoje o secretário-geral adjunto socialista, José Luís Carneiro, que lidera a comitiva do PS, assim como representantes do PCP, CDS, PAN, PEV e IL. Ausentes estão o Bloco de Esquerda (como acontece habitualmente nos congressos do PSD) e o Chega.

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