O professor de Saúde Pública, Jorge Torgal, entende que "não havia uma razão objetiva" para a apresentação das novas regras, anunciadas ontem pelo primeiro-ministro. O Governo devia "ter confiado mais no bom senso dos cidadãos", em vez de ter transmitido uma ideia de "medo".
"Acho que estas medidas significam um excesso de precaução. Penso que não há justificação e que há mesmo um contra-senso. Portugal é um dos países na Europa com maior cobertura vacinal", sublinhou o antigo porta-voz do Conselho Nacional de Saúde Pública.
"Se fosse governante" na Alemanha, Suécia ou na Finlândia tomaria medidas porque são países com uma cobertura vacinal "muito longe da de Portugal, que tem perto de 90% da população vacina com duas doses", e mais de 2,4 milhões da população com três doses, ou seja "o risco de os portugueses contraírem a doença é muito baixo".
Em declarações na SIC Notícias, Jorge Torgal afirmou que "não é com base no medo que vamos conseguir viver com esta epidemia".
Questionado sobre o que faria neste momento, em que assistimos a um novo agravamento da situação pandémica, o professor disse que reforçaria as "medidas de contenção individual, para que não houvesse grandes ajuntamentos no Natal", e em "medidas especificas para os grupos de maior risco".
"Esta lógica" adotada pelo Governo além de provocar "muitos problemas à sociedade, em nada vai evitar que haja uma enorme propagação do vírus". Além de que, explicou, "quanto mais o vírus se transmite menor é a usa agressividade".
E insistiu Jorge Torgal, tendo em conta a cobertura vacinal do país, "temos razões para estarmos tranquilos quanto à defesa contra este vírus, por isso é que há aqui uma contradição: entre o esforço da vacinação e depois estou vacinado, tenho duas doses e não posso sair à rua", contestou, apelando a que a haja mais "transparência nas decisões" tomadas pelo Executivo.
As novas medidas de combate à pandemia
Devido ao impacto da nova variante, o Governo decidiu antecipar a semana de contenção e as regras previstas. Assim sendo, a partir das 00:00 do dia 25, o teletrabalho passa a ser obrigatório, as creches e ATL encerram, bem como discotecas e bares, e regressam as limitações à lotação nos estabelecimentos comerciais (uma pessoa / 5 m2).
O Executivo decidiu também aumentar de quatro para seis o número de testes gratuitos por pessoa, até porque serão obrigatórios no acesso a estabelecimentos turísticos e alojamento local, casamentos e batizados, eventos empresariais, espetáculos culturais, e recintos desportivos (salvo decisão da DGS).
Mas há mais. No Natal (24 e 25 dez) e no Ano Novo (30, 31 dez e 1 jan), o teste negativo é obrigatório para acesso a restaurantes, casinos e festas de passagem de ano, e na passagem de ano regressa a proibição de ajuntamentos na via pública de mais de 10 pessoas, assim como a proibição de consumo de bebidas alcoólicas na via pública.
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