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Entrevista SIC Notícias

Dissolução do Parlamento? Santana Lopes tem um conselho para todos: "Por qué no te callas?"

Em entrevista à SIC Notícias, Pedro Santana Lopes afirma que o Governo vive "numa balbúrdia política permanente" e defende que "a vida política não aguenta este frenesim". Discorda de Marcelo sobre a falta de alternativa política, pois esta surge nas "eleições". Entre a análise política, o autarca da Figueira da Foz falta também do possível regresso ao PSD e não fecha a porta a uma futura candidatura a Belém.

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As polémicas que envolvem o Governo acumulam-se, com a TAP a liderar a tabela. Esta semana, durante as comissões parlamentares de inquérito, ficou-se a saber novos contornos deste caso. Pedro Santana Lopes, que já tinha dito que o Governo “não pode continuar”, vem agora reforçar a sua posição: garante que não quer eleições, mas diz que é nas urnas que surge a alternativa. Discorda das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a falta de alternativa política e afirma que o Governo vive “numa balbúrdia política permanente”. Deixa ainda um pedido a Marcelo e ao Governo: o silêncio.

“Lembram-se do que disse uma vez o Rei de Espanha numa cimeira ibero-americana? ‘Por qué no te callas?’ Não estou a dizer isto a Marcelo, estou a dizer a todos. Porque a vida política portuguesa não aguenta este frenesim todos os dias”, afirma o autarca da Figueira da Foz.

Apesar dos elogios ao Chefe de Estado - que Santana muito gosta e apoia - o antigo primeiro-ministro não concorda com a posição tomada por Marcelo recentemente, onde afirmou que uma das razões para não dissolver o Governo é por não haver alternativa governativa.

“Eu não concordo com o Presidente quando diz que não vai para eleições porque não há alternativa. Mas se formos para eleições a alternativa surge. Alias, o centro direita, hoje em dia, tem maioria larga. Dizem que não se pode coligar com o Chega, mas deixem ir para eleições”, afirma. “Acho é que não é argumento, principalmente quando é próprio Presidente que, quase todos os dias, manda o seu recado ao Governo”.

O antigo primeiro-ministro lembra ainda que, há um ano e meio, foi o mesmo Marcelo Rebelo de Sousa quem decidiu dissolver o Parlamento por não ter sido aprovado um Orçamento do Estado. Questiona se na altura havia alternativa e responde logo à própria pergunta: “A alternativa foi o próprio que estava no poder e com o poder ainda mais reforçado”.

Apesar de tudo, Santana Lopes garante que não quer eleições antecipadas. Quer sim, uma “normalização” da vida política e “um Governo a trabalhar bem”. Diz que Portugal “não pode viver nesta inoperacionalidade permanente” e que todas as polémicas que atacam o Governo diminuem o tempo que o primeiro-ministro tem para outros assuntos.

E não deixa esquecer as polémicas: de Eduardo Cabrita a Miguel Alves, dos ministros com incompatibilidades à secretária de Estado que esteve apenas 24 horas, da obra do hospital militar à discórdia pública no Ministério da Economia.

“Vivemos numa balbúrdia política permanente. É o que se vê no dia-a-dia, uma algazarra”, afirma. Ressalva que o que “está em causa é uma governação eficiente do país e sem ter todos os dias casos”, e não “o regular funcionamento das instituição”.

António Costa deve dar “um murro na mesa”

De antigo primeiro-ministro para primeiro-ministro, fica um conselho: “Eu acho que António Costa precisava de dar um murro na mesa.” Santana Lopes afirma que as “coisas estão descontroladas” e aconselha também a Costa fazer uma declaração ao país.

“Devia aproveitar o próximo debate no Parlamento para fazer uma declaração ao país sobre o que acontece e sobre a sua força, vontade, determinação em prosseguir os tempos que aí vêm com acalmia, estabilidade, mas ver se é com esta equipa que ele consegue fazer isto.”

Há cerca de dois meses, Santana Lopes tinha sugerido ao chefe de Governo demitir a sua equipa e criar um novo Executivo, com novos ministros e secretários de Estado. Agora, “já não há força para isso”.

“Nós na vida política temos a obrigação de ter a perceção política. Eu acho que já não há tónus, força política, margem de manobra para fazer isso. É melhor do que ir para eleições”, afirma.

Sobre as polémicas na TAP, Santana Lopes “não acredita” que António Costa não soubesse das reuniões entre os membros do Governo e os deputados do PS com a CEO, Christine Ourmières-Widener. Considera que Costa não está a mentir, mas sim a “resguardar-se”.

“Se eu fosse primeiro-ministro eu sabia e se não soubesse tínhamos problemas. E ele - eu conheço-o, já fui vereador da oposição dele quando ele foi presidente da Câmara - e ele gosta de saber tudo e conhecer tudo”, partilha.

Enquanto defende a saída do Governo, o autarca da Figueira da Foz lembra também as situações difíceis que o Executivo de António Costa ultrapassou nos últimos anos – da pandemia de covid-19 à guerra na Ucrânia - e tece alguns elogios ao líder socialista.

“Eu se tivesse governado sete anos, com uma pandemia pelo meio, com uma guerra, com estas dificuldades todas, eu não sei se faria sequer igual a António Costa. Ele tem conseguido resultados extraordinários com as dificuldades todas que tem enfrentado. No último ano as coisas têm corrido mal. Com o que digo, eu não estou a pretender atingir objetivos políticos, estou muitíssimo preocupado com o meu país.”

A possibilidade de Marcelo lançar a bomba atómica – ou a dissolução do Parlamento – tem sido muito comparada com a queda do Governo de Santana Lopes, em 2004. Algo que deixa o antigo primeiro ministro ofendido. Considera o escândalo da TAP “grave” e que “não tem nada a ver com [o que se passou em] 2004”. Compara a situação com o Governo de Cavaco Silva que, segundo Santana, também começou a decair ao sétimo ano de mandato.

O regresso ao PSD do “coração” e a porta aberta às Presidenciais

Santana Lopes tem vindo a defender que é na Câmara da Figueira da Foz que quer continuar, pois é um trabalho que “adora”. Garantiu até que irá candidatar-se às próximas autárquicas na busca pela reeleição porque, desta vez, “ninguém” o vai “obrigar” a sair. No entanto, não fecha a porta a uma possível candidatura a Belém – no futuro.

“Eu sempre gostei muito da vida política, essas funções [de Presidente da República] enchem uma pessoa de orgulho se as exercer. Marcelo Rebelo de Sousa deve senti-lo. Alguém que queira servir o seu país pode fazê-lo e não pode haver funções mais elevadas onde o possa fazer. E quem tem 66 anos, como eu, não pode dizer de maneira nenhuma nunca pensarei nisso.”

Sobre o regresso ao PSD, a porta também não está fechada: “Já disse várias vezes que o meu coração está lá”, afirma o fundador do Aliança. Santana conta já ter recebido contactos para voltar ao partido, mas só voltará se “também puderem voltar comigo os que foram expulsos por me apoiar”. Uma condição que impõe por uma questão de honra.