Os investigadores estão a passar a pente fino vários negócios da Altice, desde os direitos televisivos, até à contratação de campanhas publicitárias e à compra de aparelhos de duas marcas chinesas. O Ministério Público (MP) acredita que estes negócios permitiram o pagamento de luvas e prejudicaram o Estado em vários milhões de euros.
Cristiano Ronaldo foi a estrela de um anúncio em 2016, que foi um dos mais vistos desse ano no Youtube. Esta campanha foi concebida pela MTSF PARTNERS e o negócio que a envolveu está sob suspeita.
O Ministério Público acredita que a participação do jogador foi uma condição imposta por Hernâni Vaz Antunes e Armando Pereira que, dizem os investigadores, vieram depois exigir o pagamento de comissões.
Percurso do dinheiro
O MP descreve o percurso do dinheiro: primeiro, a Altice pagou à agência de publicidade e à representante dos jogadores, que a seguir entregaram o dinheiro a outra empresa, propriedade de Luís Seara Cardoso, ex-vice-presidente do Benfica. No total, o MP contabilizou 2.5 milhões de euros.
A seguir, esta empresa passou faturas a outras, precisamente de Hernâni Vaz Antunes e Amando Pereira, num total de 1.5 milhões de euros, diz a investigação sem que tenha sido prestado qualquer serviço.
Contacto pela SIC, Luís Seara Cardoso diz que fez “um contrato normal” com a empresa, mas que não quer falar sobre isso.
Anúncio com Neymar também está a ser investigado
A investigação está também a ver com a atenção os anúncios que envolveram Neymar, mas, na realidade, as suspeitas envolvem todas as campanhas publicitárias feitas para a MEO entre 2015 e 2020.
Também os direitos televisivos de jogos de futebol estão sob suspeita. Em causa, um contrato assinado pela Altice com o empresário Bruno Macedo, em 2016, para negociar com os clubes.
O contrato rendeu 20 milhões de euros, mas desses, cinco milhões foram depois entregues à empresa de Hernâni Vaz Antunes para pagar à ajuda para fazer estes contactos.
Compra de equipamentos chineses sob investigação
Sob investigação está também a compra de equipamento às chinesas HUAWEI e XIAOMI. Era Luís Alveirinho - o administrador com o pelouro das tecnologias da Altice, que entretanto já saiu da empresa - que negociava com as empresas, mas o negócio, a seguir, não era feito pela Altice, mas por uma empresa intermediária, que era controlada, mais uma vez, por Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes.
O MP acredita que os dois "agiram com o propósito de obter vantagens pessoais, viciando o processo de decisão" e prejudicando a Altice, mas também o Estado que, no total, terá perdido 100 milhões de euros. É que algumas empresas foram indevidamente sediadas na zona franca da Madeira, o que lhes permitiu pagar menos impostos. Só de 2017 a 2022, tiveram um benefício de IRC de 27 milhões de euros.