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"É preciso tornar menos acessível e menos confortável fumar”

O médico de Saúde Pública Vasco Peixoto vê virtudes nas medidas que são propostas na Lei do Tabaco, mas considera que até há medidas mais simples que causariam maior impacto.

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As alterações à lei do tabaco são discutidas esta quinta-feira no Parlamento. O diploma equipara o tabaco aquecido ao tradicional, aperta o cerco à venda em máquinas automáticas e interdita o fumo ao ar livre junto de escolas, faculdades ou hospitais.

Para o médico de Saúde Pública, estas alterações à lei têm algum impacto na redução do consumo, mas até há medidas mais simples que causariam mais impacto como o aumento do preço do tabaco.

"Nós continuamos com um problema de tabagismo grande em Portugal e não sabemos muito bem o que é que está a acontecer nos últimos anos. Há novos produtos de tabaco que têm um aumento de consumo muito grande. Precisamos de perceber melhor quais são os impactos na saúde destes produtos, precisamos de mais estudos e estudos diferentes, com mais tempo, com mais pessoas para o percebermos”.

“Em Portugal, temos um conjunto de medidas que são medidas verdadeiramente de economia comportamental. São medidas para tornar um bocadinho mais difícil comprar, ou tornar mais difícil estar a fumar normalmente em diferentes tipos de locais e isso pode ter um impacto positivo no começo do consumo das novas gerações. E naqueles que já consomem, provavelmente isso não vai fazer abandonar, mas vai dificultar", considera,

É preciso uma mudança cultural e socioemocional

O consumo de tabaco é uma dependência e, como outras dependências, também precisa de uma abordagem de saúde pública transversal. Para Vasco Peixoto, é necessária uma mudança cultural e socioemocional.

“Uma mudança cultural por um lado e uma mudança de competências socioemocional - e isso é muito importante fazer nas escolas, através dos programas de saúde escolar com as unidades de saúde pública e até, eventualmente, incluir essa componente de capacitação, em vez das medidas para prevenir as dependências serem só medidas mais ou menos simples de economia comportamental de tentar tornar menos acessível e menos confortável o consumo”.

Vasco Peixoto explica que aqui “entram também questões culturais até relacionada com a POP Culture [cultura popular] - as séries, a música, o cinema -, que têm um impacto na normalização ou não de certos tipos de consumo”.

“Não atacar quem tem a dependência”

O ministro da Saúde garante que esta "não é uma política contra quem fuma”. Em declarações aos jornalistas, Manuel Pizarro, garantiu que "a nova lei do tabaco não é uma política contra quem fuma" e lançou como objetivo "garantir que as jovens gerações chegam a 2040 como uma geração livre de tabaco".

Para o médico, diferentes preços consoante a idade e acessibilidades diferentes, consoante a idade das pessoas são "uma tentativa de facto de não atacar quem tem a dependência, porque na verdade sabemos que as dependências são difíceis de alterar

“Nós precisamos é de alterações muitas vezes na organização do trabalho e ter tempo para fazer atividades físicas, relações, a forma como se relaciona com os outros, o stress no dia a dia”.