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"Pedro Nuno Santos está a romper com a tentação do PS de combater com o Ministério Público"

Segundo Sebastião Bugalho "Pedro Nuno Santos rompeu de forma, subtil, inteligente, mas a meu ver corajosa, com a tentação do PS de transformar esta eleição num combate entre a democracia e a justiça, que seria a meu ver suicidário para o regime".

Comentador SIC, Sebastião Bugalho
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Esta quinta-feira, na SIC Notícias, Bernardo Ferrão e Sebastião Bugalho analisam o discurso de apresentação de Pedro Nuno Santos à liderança do Partido Socialista (PS), onde o líder começou por abordar “erros e cicatrizes” do passado, num claro “movimento preventivo de defesa”, segundo Sebastião, mas que segundo Berardo Ferrão foi também “uma crítica velada àquilo que António Costa não conseguiu fazer”.

No dia em que o país ficou a conhecer as medidas de coação dos cincos arguidos da Operação Influencer, ambos os jornalistas destacaram uma das frases proferidas por Pedro Nuno Santos, que se resume a uma promessa.

"A promessa de que o PS não vai passar os próximos quatro meses a falar sobre um processo judicial”, afirmou Pedro Nuno Santos.

Bernardo Ferrão tem dúvidas da exequibilidade desta promessa, pois “apesar de hoje termos tido já o anúncio de medidas de coação” dos cinco arguidos envolvidos no caso, “há ainda a investigação do hidrogénio e do lítio” em curso, podendo a investigação estender-se por mais tempo.

Segundo Sebastião Bugalho, este é um discurso “corajoso” e que “vai ao encontro do tipo de personalidade que Pedro Nuno Santos quer apresentar”.

“Aliás, se ele tivesse medo do seu passado nem valia a pena candidatar-se a líder do partido”, acrescenta.

Duas companhias “estratégicas”

Para Bernardo Ferrão, existe um apontamento a ressaltar, no que toca às duas presenças que acompanharam Pedro Nuno Santos na sede do Partido em Lisboa. Estas foram Francisco de Assis e Luísa Salgueiro.

“As duas pessoas que entraram com Pedro Nuno Santos, desde logo Francisco Assis, porque permite passar a mensagem de um PS que não está exclusivamente reduzido a uma ala mais de esquerda, mais radical, abrindo-se para uma ala mais moderada. E a presença de Luísa Salgueiro, da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), representando o contacto com o poder local”, explica o jornalista.

Sebastião acrescenta que “Trazer Francisco Assis, como diria o Bernardo, é a procura por um selo de qualidade pelos moderados”.

“Bicadas” dentro do PS

Para Sebastião Bugalho “há uma troca de bicadas com José Luís Carneiro, quando Pedro Nuno Santos diz ‘eu apoiei António Costa’. Está a contrariar José Luís Carneiro que apoiou António José Seguro nas eleições primárias”.

“Também quando diz que ‘esta não é uma luta no PS entre radicais e moderados’, também está a responder a José Luís Carneiro, que tem contraposto Pedro Nuno Santos acusando-o de ser um radical”, explica.

Acrescenta ainda que “É também um discurso que não deixa de dar umas bicadas a Costa, afirmando que ele próprio não será alguém que se limitará a fazer uma gestão do dia-a-dia”.

Cadastro de Pedro Nuno Santos

Bernardo Ferrão frisa os ataques feitos à ala política da direita, “que não cumpre promessas, que não tem credibilidade, que não são conquistas irreversíveis”.

"Pedro Nuno Santos não chega aqui virgem, esteve num Governo. Também está na caderneta de cromos que fizeram parte desses governos e, portanto, é culpado de muitas das coisas que o país atravessa hoje. Mesmo que não concordasse com algumas das medidas, a cara dele estava lá.

Ainda assim, considera que o facto de Pedro Nuno Santos “ser um líder novo”, faz com “que tenha algum passado, mas não esteve noutros Governos para além do de António Costa”.

"Críticas veladas" a António Costa

“Acho que os objetivos que ele traça são também uma crítica velada àquilo que António Costa não conseguiu fazer. O rendimento mínimo está cada vez mais próximo do salário médio; a questão da habitação - ainda que tenha parte de culpa, também atira isso contra Costa -, bem como a questão da valorização do território”, afirma Bernardo Ferrão.