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"Pedro Nuno Santos terá de apresentar a sua diferença das lideranças socialistas"

Para o analista Bruno Costa, o candidato a secretário-geral terá de marcar a diferença na governação e restaurar a esperança dos portugueses, tendo em conta que o partido em 27 anos governou 22.

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Bruno Costa, analista de ciência política, vê o discurso de Pedro Nuno Santos como um arranque necessário após um "período de nojo" político. Com as palavras e presença de certas figuras socialistas, o candidato a secretário-geral do PS mostrou também conseguir ser consensual ao centro. Por outro lado, tocou em muitos temas que se assemelham com bandeiras dos partidos mais à esquerda.

Pedro Nuno Santos é oficialmente candidato a secretário-geral do Partido Socialista, em paralelo com José Luís Carneiro. Na sua apresentação de candidatura, sob o lema “um futuro com história”, discursou sobre o passado do PS, elogiou António Costa, sobre o seu passado pessoal e, ainda, conseguiu referir os perigos da oposição.

Para o analista de ciência política, Bruno Costa, Pedro Nuno Santos precisou de justificar o seu retorno após um período político conturbado na sua carreira.

"Aqui pareceu me que o candidato Pedro Nuno Santos procurou justificar uma candidatura tão cedo. Ele estaria à espera de um período de nojo, um período politico para se apresentar e é necessário regressar a um ambiente de proximidade e de palco político, porque a saída após a indemnização de Alexandra Reis acabou por criar uma perceção não muito positiva de Pedro Nuno Santos", relembra o analista político.

Com isso, o candidato à liderança socialista acabou por se apresentar mais “moderado” tendo em conta o seu discurso, mas também as figuras que apareceram com ele em apoio: Francisco Assis e Luísa Salgueiro.

"A primeira ação foi tentar apaziguar e mediar um pouco essa visão que os portugueses têm de Pedro Nuno Santos, procurou com este discurso mostrar se mais ao centro do que é realmente, não só com o discurso mas com as pessoas com quem se rodeou", refere Bruno Costa.

Apesar dessa moderação, o socialista acabou por não fugir às suas “origens”, tanto pessoais, como políticas, tendo em conta que é amplamente conhecido, da sua carreira política, os temas que mais lhe tocam e movem.

"Pedro Nuno Santos nunca poderá fugir a parte do discurso que marcou sempre a sua carreira política, ele usa o passado pessoal para justificar a visão que tem da política, quando refere a profissão do seu avô e coloca na agenda temas próximos a todos os partidos mais à esquerda. Mas houve uma preocupação em ligar o discurso a caras que estão mais ao centro ou moderados", acrescenta.

A respeito da direita, nomeadamente do PSD e do Chega, o discurso de Pedro Nuno Santos será semelhante ao de António Costa durante a campanha eleitoral para as legislativas de 2022: assombrar os portugueses com a possibilidade de coligação entre Chega e os sociais-democratas. Já o PSD tem, agora, uma “arma” semelhante sobre a proximidade de Pedro Nuno Santos aos partidos de esquerda.

“Esse será o tom da pré-campanha e campanha, o PS a apresentar possibilidade de coligação com o Chega como algo que os portugueses devem temer do PSD, e o PSD a alertar para a proximidade de Pedro Nuno Santos com os partidos mais à esquerda”, refere Bruno Costa.

Para o analista político “o ponto central é o momento da responsabilização da atividade política” e relembra que Passos Coelho foi primeiro-ministro durante quatro anos e o PS está Governo há oito anos, sendo que Pedro Nuno Santos teve participação ativa em dois governos.

"Nos últimos 27 anos, temos 22 anos de Governo do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos terá de apresentar o que fará diferente das lideranças socialistas em termos de executivo nacional", conclui.