“Não acho razoável”, “Não conheço o relatório”, “Este não é o momento nem o sítio próprio, peço imensa desculpa". Estas afirmações foram apenas o (pouco) que a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, disse aos jornalistas, esta tarde de quarta-feira, no Parlamento depois de conhecida a auditoria ao caso das gémeas.
Ainda assim, a antiga ministra da Saúde reiterou total disponibilidade “para responder em todo o lado” sobre o que fez no exercício de funções. Questionada se já foi convocada para prestar esses esclarecimentos, negou.
“Não fui [convocada], quando for irei e se for considerado oportuno pelos órgãos próprios”, disse.
Recorde-se que, no final de novembro, a antiga ministra da Saúde garantiu que não deu "qualquer orientação" sobre o tratamento e que a lei é clara, obrigando o SNS a tratar as crianças.
Ainda assim, manifestou também, na altura, disponibilidade para prestar todos os esclarecimentos ao Parlamento, ao Ministério Público ou a entidades da saúde sobre o caso.
O que concluiu a auditoria interna?
A auditoria interna do Hospital de Santa Maria concluiu que a primeira consulta foi marcada através de um telefonema da Secretaria de Estado da Saúde.
“Os controlos internos implementados no tratamento de doentes com Atrofia Muscular Espinal, onde a terapêutica utilizada foi o Zolgensma, no período de 2019 a outubro de 2023 - e falamos de dez crianças -, na sua admissão, tratamento e monitorização asseguram o cumprimento da legislação em vigor e das operações em todos os aspetos. Exceto na referenciação para a primeira consulta de neuropediatria de dois doentes, que foram referenciados ao departamento de pediatria pela secretaria de Estado da Saúde”, reconheceu a presidente do CHLN, Ana Paula Martins.
Quem marcou a consulta? “Não fui eu”, diz Lacerda Sales
Já esta tarde, em declarações à Antena 1, o secretário de Estado da Saúde voltou a garantir que não marcou qualquer consulta no Serviço Nacional de Saúde para as gémeas.
“É curioso porque primeiro ouvi falar que teria sido eu a marcar a consulta. Já se chegou à conclusão que, como tenho dito, não marquei qualquer consulta no Serviço Nacional de Saúde. Depois ouvi falar que existiria um e-mail, não me chegou ainda nenhum e-mail”, afirmou.
Lacerda Sales lamentou as “suposições” que têm sido lançadas e defendeu que é preciso que o caso seja “devidamente esclarecido”.
“Só depois de analisar o relatório e de ter acesso a toda a documentação é que me poderei pronunciar com exatidão”, disse.
A auditoria, que não apura responsabilidades disciplinares ou criminais, seguiu já para a tutela.
Gémeas foram tratadas com um dos medicamentos mais caros do mundo
Em causa está o processo segundo o qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo - para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.