País

O retrato da vida nos bairros de lata: só na Grande Lisboa há quase 30

Em Corroios, por exemplo, o bairro de barracas já ocupa quase 40 mil metros quadrados. Quem chega, normalmente tem familiares no local e é nessa rede de relações que a vizinhança se organiza e cresce.  Um dos concelhos com mais problemas é Almada, onde, em cinco quilómetros, há três bairros. 

Loading...

A crise da habitação continua a empurrar cada vez mais pessoas para bairros de lata. Só na Grande Lisboa. Há quase 30 com milhares de moradores. As câmaras avançam com demolições, mas como o problema de fundo continua por resolver, muitas famílias acabam por regressar e construir novas barracas. 

O sinal, à entrada do bairro, serve para pouco mais do que encostar o lixo. Encosta acima, Santa Marta de Corroios é casa para centenas de pessoas. Menos algumas, agora, depois de, há quase um ano, a Câmara do Seixal aqui ter entrado e começado as demolições. 

“Eles vieram com mentiras a dizer que já tinham casas para dar. As pessoas que saíram de casa perderam a casa. Eu também tenho a minha casa, mas lutei muito para ter. Quando a Câmara veio, eu fiquei dentro de casa e decidi não sair”, conta à SIC uma moradora 

Mas houve quem não tivesse tido a mesma sorte. Outra moradora denuncia que a autarquia garantiu que tinha uma solução, contudo ficou vários dias na rua. 

Na altura, com dois filhos, um com seis anos e outro com apenas um, ficou a dormir no chão do bairro junto ao entulho da própria casa.  

Tentou arrendar um quarto, mas com crianças não conseguiu. Só viu uma alternativa: voltar ao bairro.  

Numa altura em que se fala tanto em demolições de barracas, o caso deste bairro mostra o que acontece quando se destrói uma casa, mas não se resolve o problema de base. 

Bairro em Corroios ocupa quase 40 mil metros quadrados

Em Corroios, o bairro de barracas já ocupa quase 40 mil metros quadrados. Quem chega, normalmente tem familiares no bairro e é nessa rede de relações que a vizinhança se organiza e cresce.  

A maior parte dos moradores veio de São Tomé e Príncipe. Estão aqui por muitos motivos, mas raramente por vontade própria. 

A realidade dos bairros de barracas está por toda a Grande Lisboa, havendo 27 bairros identificados. Um dos concelhos com mais problemas é Almada, onde, em cinco quilómetros, há três bairros. 

No bairro do Raposo, assim como no do Talude, em Loures, ou no de Corroios, no Seixal, as condições estão perto do desumano. Humanos, só os moradores, que, apesar de tudo, conseguem dar lições de otimismo: 

“Na vida nada é fácil. Nada é fácil. Se fosse fácil, nada teria graça”, diz uma moradora de um dos bairros de habitações precárias.