Alguns moradores do bairro do Talude acusam a Câmara de Loures de mentir. Garantem que nunca pagaram pelos terrenos ou pelas casas precárias onde vivem. Dezenas de pessoas continuam a passar as noites em tendas ou debaixo do que conseguiram construir.
Quando chegou a Portugal, Maria não tinha dinheiro. Ficou no Bairro do Talude com uma prima e aos poucos construiu a própria casa, que já foi demolida.
"Eu vim doente de São Tomé, eu não consigo trabalhar para pagar uma renda, fiquei aqui até agora. Desde há 10 meses. Para ir para um prédio e pagar renda... não tenho como, não tenho como mesmo. Estamos aqui no dia-a-dia, há mosquitos, mordem-nos. Temos de estar assim mesmo."
Têm estado junto do entulho, que começou a ser retirado, mas a operação de limpeza ficou por terminar.
Os pertences dos moradores estão escondidos em pequenos montes ou em pequenos espaços.
A maioria não quer ficar ao relento mais tempo. Garantem que não tiveram alternativas.
"As casas foram demolidas. Não vimos apoio da Câmara Municipal para ver realmente como a população vai sofrer. Uma pessoa normal não vai querer viver nisto. Estão aqui porque não conseguem pagar uma renda. Há picadas de mosquito."
Depois das máquinas entrarem no Bairro, quem ficou para trás reconstrói o possível. Com os painéis solares doados a luz voltou ao terreno.
A maioria das 55 famílias que ficaram sem o que chamavam de casa continuam a viver no bairro sem as mínimas condições.