Saúde e Bem-estar

Quando e como tomar antibióticos?

"Os antibióticos são inacreditáveis", mas podem ser um problema para a saúde pública. Quem os toma, muitas vezes fá-lo de forma desaquedada: ora deixa de os tomar, ora automedica-se. Afinal, que riscos existem quando o uso é incorreto?

Quando e como tomar antibióticos?
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A resistência a antibióticos mata 25 mil pessoas por ano na União Europeia e 700 mil em todo o mundo. Margarida Graça Santos, médica interna de Medicina Geral e Familiar, reconhece que é um "grande problema de saúde pública". No Dia Europeu dos Antibióticos, a SIC Notícias alerta para os riscos da toma desadequada e deixa um apelo: tomar apenas com prescrição médica.

Há pessoas que acham que os antibióticos ajudam na tosse, em dores, na gripe ou que tomam "só porque sim". Há também pessoas que chegam a uma consulta de urgência "já com a ideia de pedir antibióticos". Têm dificuldade em esperar que os sintomas passem. Este cenário é retratado pela médica interna de Medicina Geral e Familiar Margarida Graça Santos.

Em entrevista à SIC Notícias explica:

"Os antibióticos são uma arma terapêutica inacreditável, mas devem ser usados apenas com uma infeção bacteriana. O objetivo dos antibióticos é tratar infeções causadas por bactérias e não por vírus ou fungos. A maioria das infeções que leva as pessoas às urgências são infeções virais, como a gripe. O antibiótico faz muito sentido, mas quando suspeitamos de uma infeção bacteriana, que requer diagnóstico de um médico".

É frequente as pessoas deixarem de tomar os antibióticos a meio "porque melhoraram, por exemplo". É importante que isso não aconteça:

"Quando não se cumpre o recomendado, pode acontecer que, em vez de conseguirmos matar as bactérias, como é suposto com a duração e horas adequadas, estamos a enfraquecê-las. Mas continuam lá. Faz com que se tornem mais resistentes aos tratamentos", esclarece Margarida Graça Santos.

Resistência aos antibióticos é um "grande problema de saúde pública"

A médica reconhece que a resistência aos antibióticos, "que acontece quando o medicamento perde a capacidade de matar as bactérias", é um "grande problema de saúde pública atualmente". A sua má utilização é uma das principais causas.

"A pessoa tomou um antibiótico, mas em vez de tomar oito dias, tomou dois. Isso fez com que a bactéria ficasse um bocadinho abananada, mas continuasse lá. Além de continuar lá, pensa 'eu vou criar mecanismos para me adaptar e ser resistente a este antibiótico'. Da próxima vez que dermos aquele antibiótico, a bactéria diz 'eu já te vi uma vez, já sei lidar contigo e a mim não me fazes diferença", exemplifica Margarida Graça Santos.

Por ano, 25 mil pessoas na União Europeia e 700 mil em todo o mundo morrem devido à resistência aos antibióticos.

"Já temos bactérias que, hoje em dia, são resistentes a quase todos os antibióticos que temos no mundo", diz, e acrescenta: "se aparecem bichinhos que não temos medicamentos para tratar, as infeções vão evoluindo e agravando e acabam por originar queixas mais graves e difíceis de tratar".

Automedicação acontece "cada vez mais"

Questionada sobre casos de automedicação, a médica interna de Medicina Geral e Familiar refere que acontece muito, "cada vez mais", sobretudo "com a venda suspensa nas farmácias". A automedicação origina bactérias resistentes e, possivelmente, infeções mais graves e mais difíceis de tratar, "mais prolongadas e com mais efeitos adversos".

"Felizmente, os farmacêuticos estão cada vez mais alerta e dificultam esses processos", acrescenta, mas alerta: "só devem ser vendidos com prescrição médica".

Em Portugal, a automedicação da população adulta está entre os 21,5% e os 31,6%.

"Benefícios superam os riscos"

Margarida Graça Santos reconhece que há riscos na toma de antibióticos, "como em qualquer terapêutica farmacológica". No entanto, defende que "se os benefícios superam os riscos, faz todo o sentido tomar o antibiótico".

cada vez mais doentes a não quererem tomar antibióticos, sobretudo "agora, com a 'quimicofobia'": "As pessoas só querem coisas naturais, não percebem que às vezes o natural é menos testado e seguro que aquilo que é químico".

"Lembro-me de uma senhora que tinha uma infeção urinária, que precisava de antibiótico. Adiou, não quis porque queria experimentar tratamentos naturais e acabou por fazer uma infeção renal com muito mais gravidade. Acabou por precisar de muito mais antibiótico e de doses muito mais fortes com efeitos adversos maiores", exemplifica a clínica.

Se as pessoas têm dúvidas, devem questionar os médicos. É um dos conselhos dados por Margarida Graça Santos: "É bom e importante questionarem a terapêutica. Se precisam mesmo de antibiótico, com que sinais se devem preocupar, quando devem tomar, quais são os riscos, por exemplo".

Com cada vez mais pessoas a automedicarem-se e com a resistência aos antibióticos como um "grande problema de saúde pública", torna-se importante alertar para a "toma correta" dos antibióticos e "apenas com prescrição médica", realça a médica, em entrevista à SIC Notícias.