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Marcelo "duro como o aço" colocou António Costa "na ordem"

José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão analisam a mais recente demissão no seio do Governo e ainda a discórdia entre o Presidente e o primeiro-ministro que marcou esta quinta-feira.

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José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão analisam a demissão de Carla Alves, secretária de Estado da Agricultura, e as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa que antecederam o anúncio da saída.

José Gomes Ferreira afirma que "acabou o Marcelo dos afetos e começou o Marcelo duro como o aço, aço cortante", referindo-se às afirmações do Presidente que decretaram a "morte política da secretária de Estado".

Depois de António Costa ter dito que a secretária de Estado da Agricultura não iria cessar funções, Marcelo Rebelo de Sousa não demorou a afirmar que Carla Alves é um "peso político negativo" e que deveria fazer um "autoescrutínio".

José Gomes Ferreira nota que se houver novamente uma situação semelhante a esta, Portugal enfrentará "uma crise política séria".

Afirma ainda que Marcelo Rebelo de Sousa colocou "um ponto final numa pretensão de António Costa" de querer influenciá-lo em várias decisões, pondo-o assim "na ordem".

Bernardo Ferrão refere que o Presidente “deu cumprimento à sua palavra”, no sentido em que o próprio tinha garantido que iriam haver consequências "caso as coisas não se compusessem".

Descreveu ainda o dia de António Costa como "mau", depois do primeiro-ministro ter "posto em causa todas as pessoas que levantaram questões" acerca do caso que envolve Carla Alves e o marido.

Vinca que a demissão da secretária de Estado era inevitável depois das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa terem sentenciado a continuidade de Carla Alves no cargo que ocupava desde a tarde de quarta-feira.

Bernardo Ferrão diz também que "começa a ser difícil de aceitar esta lógica de que o Presidente da República pode manter tudo como está porque não há uma alternativa" e remata que o "Governo a funcionar assim não é um governo. Isto é outra coisa, não é um Governo."

De seguida, analisaram a proposta de António Costa, que defende a criação de um sistema de fiscalização dos novos membros que entrem no Governo. Com esta proposta, António Costa “pretende corresponsabilizar o Presidente”, defendem.

José Gomes Ferreira falou ainda do "desaparecimento" da ministra da Agricultura e do facto da mesma não ter investigado os antecedentes de Carla Alves.

Já Bernardo Ferrão garante que o Governo atual atravessa um momento "frágil", acrescentando que o passado dos novos elementos que integraram o Executivo no dia de ontem deveriam ter sido escrutinados, caso não tenham sido, "para que não haja novas surpresas".

Afirma ainda que, para António Costa, os tempos que se avizinham "não serão fáceis", já que terá de voltar a ganhar "uma dinâmica", num ano "decisivo" para o primeiro-ministro.