O embaixador ucraniano no Vaticano criticou hoje duramente as palavras do Papa sobre os inocentes vítimas da guerra na Ucrânia, dando como exemplo o atentado a Darya Dugina, filha de um ideólogo do Kremlin.
"Muitos feridos, muitas crianças ucranianas e crianças russas ficaram órfãs. Os órfãos não têm nacionalidade, perderam o pai e a mãe, sejam russos ou ucranianos. Penso em tanta crueldade para tanta gente inocente que está a pagar esta loucura em todos os lados, porque a guerra é uma loucura", disse o Papa Francisco durante a audiência geral, ao recordar os seis meses desde o início da invasão russa da Ucrânia.
A seguir, acrescentou:
"Penso na pobre rapariga que foi pelos ares devido a uma bomba debaixo do assento de um carro em Moscovo. Os inocentes pagam a guerra".
Referia-se à morte da jornalista e cientista política russa de 29 anos Darya Dugina, filha de Alexandr Dugin, escritor ultranacionalista que promove uma doutrina expansionista e que se apresenta como feroz defensor da ofensiva russa na Ucrânia, considerado um ideólogo do Presidente russo, Vladimir Putin.
Reação da embaixada da Ucrânia
Perante estas declarações, a diplomacia ucraniana reagiu de imediato, afirmando que o Papa estava a pôr ao mesmo nível o agressor e o agredido.
O embaixador da Ucrânia no Vaticano, Andrii Yurash, escreveu na rede social Twitter que o discurso papal sobre a guerra na Ucrânia na audiência de hoje de manhã foi "dececionante".
Isso fez-me pensar que as categorias de agredidos não podem comparar-se com as de agressores, vítimas com verdugos, violados com violadores. Como é possível citar a filha do ideólogo do imperialismo russo (Alexandr Dugin) como vítima inocente? Ela foi assassinada pelos russos como vítima sacrificial e agora é um escudo de guerra.
O secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa ucraniano, Oleksii Danilov, disse na terça-feira que o assassínio de Darya Dugina foi uma "execução perpetrada pelos serviços secretos russos e que a Ucrânia não teve nada que ver" com o sucedido.
A reação da embaixada reduz as hipóteses de Jorge Bergoglio se deslocar a Kiev antes de visitar o Cazaquistão, a 13 de setembro, onde não se descarta uma reunião com o patriarca ortodoxo russo, Cirilo I, que apoiou a invasão russa da Ucrânia.
O Vaticano não confirmou, até agora, qualquer das possibilidades