A organização do Mundial de futebol de 2022 no Qatar, envolta em polémica desde o primeiro dia, levou a que, pela primeira vez, e de forma a evitar o verão tórrido, a competição decorra em novembro e dezembro. Uma decisão com impacto direto nos calendários das Ligas europeias
Fugir ao calor tórrido
Uma das principais preocupações após a entrega ao estreante Qatar da organização do Mundial 2022 foi o clima desértico daquele território, com temperaturas a rondar os 50 graus celsius nos meses habitualmente usados para a prova (junho e julho).
O Qatar tinha pedido à FIFA para fazer uma “aposta arriscada”, insistindo que o calor naquela região do globo não seria um problema, com a promessa de que o recurso a tecnologia minimizaria essa questão, quer junto dos jogadores quer junto dos adeptos.
As altas temperaturas são problemáticas não só para os jogadores, dado que são incompatíveis com o desempenho de esforço físico, sendo mesmo desaconselhado acima dos 32 graus, como para os próprios adeptos, que assistem aos jogos e se deslocam para os estádios.
Porque é que este Mundial vai decorrer em novembro e dezembro?
Desde cedo, num alarmante contrassenso, a FIFA considerou o Mundial no Qatar de “alto risco” e defendeu que “o calor devia ser considerado como um risco potencial para a saúde”.
Durante a construção dos estádios, bem como das infraestruturas em torno da prova, morreram mais de 6.750 trabalhadores migrantes, na sua maioria oriundos de Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka, com implicações relacionadas com o calor.
“Cada um dos estádios vai aproveitar o poder dos raios do sol para fornecer ambiente fresco para jogadores e adeptos através da conversão de energia solar em eletricidade”, disse, na altura, o chefe executivo da candidatura, Hassan al-Thawadi.
A primeira opção, apesar de os organizadores garantirem o recurso a meios tecnológicos para reduzir a 27 graus a temperatura nos recintos, passou por realizar o Mundial à noite, mas a FIFA acabou por alterar a data para o inverno, período em que as temperaturas variam entre os 20 e os 30 graus, para salvaguardar o bem-estar das seleções e do público.
Que impacto terá no rendimento desportivo?
No plano competitivo, o fator imprevisibilidade, nunca ausente de um Campeonato do Mundo, ganha outra robustez, dado que a competição irá decorrer num período e local inéditos.
Os jogadores chegam habitualmente à fase final de um Mundial no ocaso da temporada desportiva, com milhares de minutos nas pernas. Pela primeira vez, tal não se verificará, já que as principais estrelas do futebol mundial aterrarão no Qatar a meio da época.
Este será também o primeiro Mundial de futebol a disputar-se no Médio Oriente, uma região do globo cujas características para a prática do futebol são desconhecidas para a maioria dos jogadores.
O que muda nos calendários europeus?
A realização do Mundial no inverno obrigou a uma reestruturação dos calendários internos e das competições da UEFA, que contam com mais de 70% dos jogadores das seleções finalistas, e passou a ocupar cerca de seis ou sete semanas dedicadas habitualmente à competição dos clubes.
O Mundial vai decorrer no Qatar durante cerca de um mês - entre 20 de novembro e 18 de dezembro - e é antecedido por um período dedicado aos estágios de preparação.
No caso português, a I Liga é interrompida a 13 de novembro e retomada a 28 de dezembro, estando calendarizados jogos da primeira fase da Taça da Liga durante o Campeonato do Mundo.
A recalendarização do Mundial levou ainda a que as provas europeias de clubes de 2022/23 (Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência Europa) tivessem uma fase de grupos mais compacta, terminando ainda antes do inicio da prova no Qatar.
A fase final do Mundial vai ser disputada entre 20 de novembro a 18 de dezembro por 32 seleções. Portugal integra o grupo H, com Uruguai, Coreia do Sul e Gana.