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Artur Fernandes: “Os ingleses pensaram que Gyokeres era mais um brutamontes que andava ali aos saltos”

Jogou com alguns dos nomes da geração de ouro, como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto e atualmente é empresário do futebol. A história do primeiro negócio, a corrida dos jogadores aos clubes da Arábia Saudita e o valor da grande figura do Sporting numa conversa com Artur Fernandes.

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Artur Fernandes é presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF) e diretor internacional da Stellar, uma das maiores agências de futebolistas da Europa, que representa jogadores como Jack Grealish (Manchester City), Camavinga (Real Madrid) e foi também a agência de Gareth Bale, ex-internacional galês.

Sobre a entrada em cena da Arábia Saudita no mercado futebolístico, que disparou com a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al Nassr, o empresário diz que “a Europa abusou da sobranceria em relação aos sauditas e estes não estão para brincadeiras”: “Dinheiro é o que eles têm. Aquilo sai-lhes do chão, por isso é muito fácil. E se contratarem quadros competentes, como já estão a fazer, vai tornar-se ainda mais forte.”

“Se há uns anos levasse uma proposta da Arábia Saudita para um jogador médio, ele rescindia contrato comigo”

A capacidade do mercado saudita está a mudar a própria mentalidade de algumas das estrelas do futebol, como sublinha Artur Fernandes.

“Se há dois anos fosse ter com um jogador médio da Stellar e lhe apresentasse uma proposta de um clube saudita, ele dizia-me, ‘olha, vamos rescindir contrato porque tu não tens projeto de vida”.

Hoje, quando me sento à mesa com o melhor jogador da Stellar, ele pergunta logo se não tenho nada da Arábia Saudita para ele.”

“Ingleses pensaram que Gyokeres era mais um brutamontes que andava ali aos saltos”

Até ao momento, Viktor Gyokeres é a grande figura do Sporting e do campeonato português. Os leões contrataram o internacional sueco por 20M€, sendo o mais caro da história do clube, num investimento que agora parece mínimo quando já se aponta para uma saída no mercado de verão a rondar os 100M€ da cláusula de rescisão.

Gyokeres estava no Coventry, do segundo escalão inglês, e escapou ao radar dos clubes mais fortes da Premier League que agora cobiçam o avançado do Sporting.

Artur Fernandes, forte conhecedor do mercado inglês, acredita que Gyokeres pode chegar aos 100M€ e só ainda não saiu neste mercado de Janeiro, por “uma questão de orgulho” dos clubes ingleses que não querem já dar o braço a torcer”: “As equipas técnicas da Premier League são muito evoluídas e quase todas estrangeiras, mas as estruturas de scouting continuam britânicas. Se calhar estão a olhar para o Gyokeres e comparam-no a mais quatro ou cinco que há na liga inglesa e que acham que é só, e com todo o respeito, mais um brutamontes que andava ali aos saltos. De repente, veem que não é que bastou ter um treinador que o põe a jogar da maneira certa e passamos a ter um ponta de lança que valia 20M€ e agora vale 100M€.”

“Ida de Roger para o Benfica foi o meu primeiro negócio. A partir daí, não havia marcha-atrás”

Artur Fernandes foi internacional de várias seleções jovens portuguesas onde jogou ao lado de alguns dos nomes da geração de ouro do futebol português, como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto. As lesões roubaram-lhe a possibilidade de ter uma carreira profissional ao mais alto nível.

Quando decidiu deixar de jogar, queria ser treinador: “Era esse o meu objetivo. Nunca quis ser empresário”, lembra. Mas a oportunidade surgiu no ano 2000, por causa das eleições do Benfica que colocaram frente a frente João Vale e Azevedo, então presidente, e o candidato Manuel Vilarinho: “Era amigo de Vilarinho e de algumas pessoas da lista. Na altura, uma pessoa mostrou-me uns vídeos de um jogador que era conhecido como o novo menino do Rio. Era o Roger [médio criativo que representou o Benfica].”

O médio criativo brasileiro era um dos trunfos eleitorais de Vilarinho que acabaria por ganhar as eleições: “Fiz essa transferência e, a partir daí, não havia marcha-atrás para ser treinador.”

Apesar de ter começado com um grande negócio, Artur Fernandes lembra que depois teve de fazer todo o caminho de “operações mais pequenas até chegar ao mercado dos grandes clubes”.