O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro afastou um cenário de demissão de Costa e garante que o Governo continua disponível para viabilizar o Orçamento do Estado até quarta-feira, dia da sua votação na generalidade.
Bernardo Ferrão afirma que nos últimos dias “ficou claríssimo” que esta situação “já não tem conserto” e que, por isso, o Orçamento do Estado vai ser mesmo chumbado no Parlamento. Considera ainda que a própria reunião do Conselho de Ministros de segunda-feira já aconteceu para ouvir os ministros e começar a preparar o ambiente para eleições antecipadas.
“Isto já não tem conserto nenhum e não vale a pena estarmos a pensar nessa hipótese, isso ficou claríssimo nos últimos dias. Está fechado, não tem conserto nenhum, o Orçamento vai mesmo ser chumbado. Basta ouvir o tom das palavras e percebe-se claramente que a campanha eleitoral já começou”.
Sobre um possível cenário de eleições antecipadas, Bernardo Ferrão sublinha que António Costa acredita que tal cenário “pode correr bem ao PS” já que o primeiro-ministro acredita que os portugueses percebem que PS e Governo “fizeram um grande esforço para que o acordo fosse alcançado”.
Sobre o que pode acontecer nas urnas, diz que o PS vai pedir maioria absoluta, resultado que considera “muito difícil”. Não atingindo essa maioria absoluta, Bernardo Ferrão aponta que será a direita a ganhar as eleições ou, em alternativa, o PS com um Governo em minoria.
“E vai falar com quem? Com PCP e Bloco com quem teve um tom de guerrilha nestes meses? Vai falar com a direita sobre quem disse há uns meses que se o Governo tivesse que lhe pedir ajuda cairia”, questiona.
Soluções que trariam um ano de “total ingovernabilidade” ao país, alerta Bernardo Ferrão, e que poderiam resultar, na pior perspetiva, em duas eleições seguidas.
“Se o PS for eleito sem maioria absoluta, Costa fica com instabilidade total, não aprova nenhum Orçamento, o Governo cai e o país volta a ir a eleições. É um cenário de grande instabilidade, agravado por todos indicadores complicados: combustíveis, ressaca da pandemia, descontentamento nas ruas. O ambiente é muito complicado e arriscamo-nos a ter um ano difícil”, afirma.
Bernardo Ferrão destaca ainda a guerra interna no PSD que, em caso de eleições antecipadas, pode coincidir com a campanha do partido.
“Se o Presidente da República insistir num calendário muito apertado, teremos uma campanha nacional para as eleições antecipadas que pode coincidir com a campanha interna do PSD. Vamos ter Costa a pedir o voto aos portugueses e Rio e a Rangel a atacarem-se mutuamente”, conclui.
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