O ministro das Finanças, João Leão, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, foram ouvidos, esta terça-feira, no Parlamento por causa da venda das barragens pela EDP à francesa Engie. Na Edição da Tarde, José Gomes Ferreira, jornalista e diretor-adjunto, divulgou as conclusões do parecer negativo elaborado pelos técnicos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Em conclusão, considera-se não estarem reunidas as condições para autorizar a transmissão destes aproveitamentos hidroelétricos (…) face ao estado de implementação das medidas ambientais, sendo que os três aproveitamentos do Douro internacional estão associados a processos judiciais em curso, face às normas legais que permitiram à outorga dos contratos em vigor e ao valor definido para o equilíbrio económico e financeiro na sequência da prorrogação dos prazos”, pode ler-se nas conclusões do documento.
Segundo explica o jornalista, este documento, que indica um conjunto de razões que para que não se realize a transferência da concessão das barragens, foi ignorado pelo presidente da APA e pelo ministro do Ambiente. José Gomes Ferreira destaca a existência de “processos judiciais em curso” e avança que os técnicos colocam “em causa o valor da transmissão das barragens”.
“Isto tresanda tudo a corrupção, não há outra maneira de dizer isto”, afirma o jornalista. “Quem escreveu isto sabe perfeitamente que está aqui um euromilhões para alguém. Quem é que recebeu o dinheiro? Foi a EDP. Quem é que fez o negócio? Os parceiros da Engie. Onde é que eles estão? Também no negócio do hidrogénio.”
Para José Gomes Ferreira, este caso tem de ter consequências políticas: “das duas uma, ou cai o presidente da APA, ou cai o próprio ministro [do Ambiente] ou secretário de Estado”. “Se não acontecer nada, estamos num país que é uma Venezuela na Europa”, sublinha.
“Algum empresário que faça um trespasse de uma concessão, por mais pequena que seja, de interesse público, cai-lhe o Estado em cima, exige-lhe tudo e mais alguma coisa e obriga-o a pagar tudo. E este grande grupo económico faz isto nas costas dos portugueses e ninguém tira ilações?”, questiona ainda o jornalista.
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