O Infarmed voltou hoje a acolher uma reunião de peritos para avaliação da situação epidemiológica de covid-19 em Portugal. Foi a primeira reunião entre políticos e especialistas desde que terminou o estado de emergência em 30 de abril.
O grupo de peritos que aconselha o Governo sobre a epidemia da covid-19 defendeu hoje que se deve manter a matriz de risco das "linhas vermelhas" de avaliação da incidência acumulada de casos e de índice de transmissibilidade (Rt).

Situação Epidemiológica no país - André Peralta Santos – Direção Geral de Saúde:
- Desde março até 25 de maio: incidência baixa a moderada mas com tendência crescente na última semana.
- Concelhos: Lisboa apresenta uma incidência superior a 120 casos/100 mil habitantes
- Regiões: Lisboa e Vale do Tejo aumenta mas está abaixo dos 120 casos/100 mil habitantes
- Freguesias do centro de Lisboa com incidências maiores e em crescimento para as freguesias vizinhas
- Idades: maior incidência dos 20 aos 29 anos e 30-40 anos.
Portugal registou desde janeiro 272 casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2 em pessoas com a vacinação completa, mas apenas 15 hospitalizações e zero mortes, adiantou hoje o diretor de serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde (DGS).
"Estes números atestam bem o poder que as vacinas [contra a covid-19] têm na redução não só da doença, mas também das suas manifestações mais negativas", afirmou André Peralta Santos na reunião periódica de análise da situação epidemiológica do país, que junta no Infarmed, em Lisboa, especialistas, membros do Governo e o Presidente da República.
"É normal que existam casos esporádicos em que, mesmo depois da vacinação completa, as pessoas possam vir a adquirir a doença, sendo que os números mostram que, na esmagadora maioria desses casos, a doença é muito ligeira e não requer hospitalização e não se verificaram óbitos", continuou.
Na leitura dos números mais recentes de casos de covid-19, o especialista da DGS reportou uma "incidência baixa a moderada, mas com ligeira tendência crescente na última semana", apesar de notar que "não são muitos os concelhos" com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, representando 683 mil pessoas. Porém, realçou a "preocupação" em torno do concelho de Lisboa, que já superou a linha dos 120 casos por 100 mil habitantes.
"A região de Lisboa apresentou crescimentos da incidência e, por ser uma zona com grande densidade populacional e movimentos pendulares intensos, pode representar uma maior preocupação", observou, explicitando que as freguesias do centro do concelho são as que registam "incidências maiores e superiores a 240 casos" por 100 mil habitantes a 14 dias.
Segundo André Peralta Santos, "algumas das freguesias mais centrais da cidade têm já alguma tendência de descida", mas o "crescimento está a dispersar-se pelas freguesias vizinhas" e até por outros concelhos. "Há uma ligeira tendência crescente dos novos casos, principalmente à custa do adulto jovem. A tendência de diminuição [de casos] mantém-se no grupo 80+ e demais idades, e também nas hospitalizações e na mortalidade", reforçou.
"As hospitalizações continuam uma tendência decrescente e, atualmente, a faixa etária que tem mais doentes internados é a faixa dos 40-59, o que também é um fenómeno expectável, porque à medida que vamos protegendo a população de mais idade com a vacinação é normal que cresça este impacto", disse, destacando ainda que a mortalidade "mantém-se em níveis muito baixos, com três mortos por milhão de habitantes".
Quanto à testagem, o perito da DGS salientou a realização de 270 mil testes na última semana, dos quais 75% eram testes rápidos de antigénio, sobretudo entre a população ativa, e uma taxa de positividade "bem abaixo do valor de referência" de 4%, apesar de um aumento ligeiro nas últimas semanas.
Evolução da incidência - Baltasar Nunes:
- Índice Rt 1,11
- Alentejo e Algarve com maior incidência
- Evolução na região de Lisboa e Vale do Tejo
- Evolução internacional positiva mesmo com aumento da mobilidade na Europa
- Índice de confinamento baixo, ao nível de Agosto 2020, quase ao nível da pré-pandemia
- Efetividade da vacina (Pfizer e Moderna): estudo demonstra que em maiores de 80 anos sem história de infeção anterior a efetividade da vacina é de 80%
O epidemiologista Baltazar Nunes considerou hoje que Portugal tem uma "situação epidemiológica controlada" e salientou a elevada eficácia das vacinas para a covid-19 nas pessoas com mais de 80 anos.
A incidência acumulada de novos casos nos últimos 14 dias está num nível baixo a moderado mas com "tendência crescente", uma vez que o índice de transmissibilidade (Rt) se encontra acima de 1,0 em todas as regiões do país menos no Norte e no Algarve.
Salientou que é preciso evitar que esta tendência crescente continue a verificar-se, projetando que se continuar nas próximas semanas, poderá atingir-se "em um a dois meses" uma incidência acumulada a 14 dias acima dos 120 casos por 100.000 habitantes.
No caso de Lisboa e Alentejo, com Rt de 1,14 e 1,16, respetivamente, esse limiar poderá ser atingido mais cedo, num período entre duas semanas a um mês.
Citando dados de um estudo feito pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e Direção-Geral da Saúde, apontou que nas pessoas com 80 anos ou mais vacinadas com vacinas de base mRna (Pfizer e Moderna), a efetividade contra infeção sintomática é de cerca de 80 por cento e efetividade contra infeção, sintomática ou não, é de 75 por cento.
Baltazar Nunes indicou que o grupo etário acima dos 80 "não costuma entrar nos ensaios clínicos" e salientou que se trata de "valores bastante bons", em linha com os verificados em outros estudos feitos no Reino Unido.
O epidemiologista e matemático afirmou que Portugal é dos países europeus com "mais baixas reduções de mobilidade, mantendo níveis de incidência baixos", com índices de confinamento "ao nível de agosto de 2020", quase iguais ao que se verificava antes da pandemia.
Para compensar o aumento dos contactos entre as pessoas e da transmissibilidade, é preciso aumentar a testagem, redução de número de contactos fora das "bolhas" familiares, manutenção de medidas preventivas nos locais de trabalho e escolas, aumento da cobertura da vacina e aumento das mensagens dirigidas à população centradas na necessidade de manter a prevenção.
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Atualização da vigilância genética do novo coronavírus em Portugal - João Paulo Gomes - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge:
- Variante do Reino Unido em ligeiro decréscimo em maio (90%)
- Variante de Manaus em estabilização em maio (13%)
- Variante da África do Sul estabilizada (2%)
- Há 3 variantes indianas - 4,6% dos casos em maio associados à variante indiana (de preocupação) em 9 distritos e 13 concelhos - 160 casos - já há transmissão comunitária, com tendência a aumentar
- Nos 2 últimos meses, o vírus está a adaptar-se a uma população imunizada, "as mutações agora do coronavírus são para ludibriar o sistema imunitários - vão tentar causar infeções"
- Adaptação do vírus à população imunizada, que melhora a todas as semanas, múltiplas introduções da variante indiana, necessário um rigoroso controlo de fronteiras.
A variante do SARS-CoV-2 associada à Índia representa quase 5% dos casos de covid-19 em Portugal, estando já em nove distritos e 13 concelhos do país, revelou hoje o investigador do INSA João Paulo Gomes.
A variante associada à Índia, considerada de preocupação, apareceu "numa altura em que a população portuguesa já tinha um considerável grau de imunidade" e foi "um bocadinho surpreendente para todos", disse o investigador, adiantando que, não havendo casos em abril, de repente, em maio, está "com quase 5% dos casos covid-19 em Portugal".
Segundo João Paulo Gomes, dos 800 genomas já sequenciados em maio, 4,6% estão associados a esta variante indiana, o que representa 37 casos confirmados, mas segundo estimativas podem atingir os 160 casos.
Variante detetada no Reino Unido regista ligeiro decréscimo em maio
Nove em cada 10 casos de covid-19 ocorridos em Portugal são causados pela variante detetada Reino Unido. Começou "em força" em janeiro, com 16% do total de casos, em fevereiro subiu para quase 60% e em abril atingiu o máximo, com 91%.
De acordo com os dados disponíveis, observou-se "um ligeiro decréscimo", situando-se nos 87,2%, disse o coordenador do estudo sobre a diversidade genética do novo coronavírus em Portugal.
No que respeita à variante de Manaus (Brasil), o investigador disse que começou com "níveis basais", teve um pico em abril com 4,3%, e em maio há uma estabilização deste valor nos 3%, o que corresponde a uma disseminação por 16 distritos e 48 concelhos do país.
A variante associada à África do Sul começou também de "uma forma relativamente modesta" no país e teve o seu pico em março, com 2,5% de todos os casos de covid-19 no país, e decresceu em abril para 1,3% e em maio ronda os 2%.
"Dá a sensação que, tanto a variante de Manaus como a variante associada à África do Sul, andam entre os 2 e os 4%", o que indica que estão numa situação "relativamente estável".
Segundo o investigador, a variante detetada na África do Sul foi já encontrada em 13 distritos e em 41 concelhos.
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"O vírus entrou e ficou na sociedade, a infeção poderá já estar a passar a doença endémica"
Da epidemia à endemia - Henrique Barros – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto:
- Ao fim de 15 meses de infeção e de doença algumas conclusões.
- Enorme efetividade da vacina na população com mais de 80 anos.
- Lisboa e Vale do Tejo, "que me está a preocupar tanto", está igual à situação em maio de 2020 em termos de incidência mas com morbilidades bem diferentes.
- "Podemos viver com medidas de proteção individuais" no que respeita à gestão do risco de contágio.
- "O vírus entrou e ficou na sociedade" - a infeção tornou-se endémica.
- A obesidade aumenta a gravidade da infeção.
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Evolução das áreas críticas no espaço e no tempo - Carla Nunes - Escola Nacional de Saúde Pública:
- Maior mobilidade e confiança dos portugueses
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Atualização do referencial linhas vermelhas - Andreia Leite – Escola Nac. Saúde Pública Univ. Nova de Lisboa
- Índice Rt e taxa de incidência - "As linhas vermelhas", conjunto de critérios para determinar que uma epidemia está controlada, agora atualizado com o plano de vacinação.
- Revisão dos critérios com base na vacinação e dados internacionais.
- "Vamos coexistir com a vacinação e outras medidas não farmacológicas."
- "Índice de incidência é o indicador centralizador de todos os efeitos do que está a acontecer, como as hospitalizações".
- Vacinação vai ajudar a manter estável o indicador de incidência - dá-nos o alerta, as medidas são decididas consequentemente
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Plano de redução das medidas restritivas - Raquel Duarte – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
- Proposta de continuação das medidas restritiva, com testagem intensa, vigilância serológica, monitorização dos indicadores e ajustes necessários, medidas de contenção individuais, ventilação e climatização eficaz e adequada dos espaços interiores.
- Maior controlo nas fronteiras e uma consulta de viajante eficaz - estamos numa fase de mobilidade quase pré-pandémica.
- Desfasamento de horários de trabalho, contactos com poucas pessoas.
- Comércio e retalho, cerimónias fúnebres, hotelaria - medidas gerais
- Restauração - utilização obrigatória de máscara, exceto a comer. Máximo de 6 pessoas no interior, 15 no exterior.
- Grande eventos no exterior com espaço delimitado - testagem antes do evento, máscara obrigatória.
- Grande eventos no exterior sem espaço delimitado - circuitos bem definidos de circulação.
- Grande eventos no interior com espaço delimitado - muda do nível C para o nível A - sem limite de lotação.
- Espaços fechados - medidas gerais.
- Convívios familiares - do nível C para A - número restrito de pessoas, manter as "bolhas".
- Transporte - sem limite de lotação, exceto taxis e TVDE
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Ponto de situação relativo ao plano de vacinação, pelo coordenador da 'task force', vice-almirante Henrique Gouveia e Melo:
- 1,5 milhão de vacinas que chegarão no fim do 2º trimestre só serão utilizadas no 3º trimestre
- 5,2 milhões de vacinas inoculadas
- 1,8 milhões com 2 inoculações com vacinas Pfizer, AstraZeneca, Moderna e Johnson&Johnson
- "Se tudo correr bem, a partir de 6 de junho serão vacinados os maiores de 40 anos, na última semana de junho 30 anos".
- 70% da população imunizada na 1ª semana de agosto.
- Preocupações: manter o ritmo de vacinação elevado e os critérios de utilização das vacinas, os idosos que vão ficando para trás, os acamados, as comorbilidades graves, comunidades isoladas geograficamente.
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A matriz de risco é constituída por dois critérios:
- o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus
- a taxa de incidência de novos casos de covid-19 por cem mil habitantes as 14 dias
Indicadores que têm servido de base à avaliação do Governo sobre o processo de alívio das restrições iniciado a 15 de março.
A propósito do tema, o Presidente da República defendeu na quarta-feira alterações à matriz de risco face à crescente taxa de imunidade da população portuguesa contra a covid-19.
Secretário de Estado aponta três critérios para avaliação da matriz de risco
Na quinta-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, adiantou que a matriz de risco passará a incluir critérios como a vacinação, o tipo de variantes do vírus e a pressão sobre os serviços hospitalares.
Na conferência de imprensa no final da reunião de Conselho de Ministros de quinta-feira, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, deixou o alerta de que o país se aproxima da zona amarela na atual matriz de risco, pedindo aos portugueses o reforço da prevenção.
A ministra remeteu para a reunião de peritos de hoje uma eventual alteração da matriz de risco e sublinhou que o facto de o Governo ter vindo a trabalhar sempre com a mesma matriz conferiu "estabilidade neste processo de desconfinamento".
Gouveia e Melo garante que falta de resposta a SMS não compromete plano de vacinação
Portugal vai receber mais de 1,4 milhões de vacinas contra a covid-19 nesta e na próxima semana, que permitirão acelerar o processo de vacinação de três escalões etários em paralelo.
Segundo Gouveia e Melo, Portugal está próximo de concluir a vacinação com pelo menos uma dose dos maiores de 60 anos, as faixas etárias que representam 96% das mortes e internamentos por covid-19.
Segundo a 'task force', cumprido este objetivo e tendo em conta as vacinas disponíveis, a "prioridade passou por vacinar, de forma o mais equitativamente possível entre administrações regionais de saúde", o maior número de pessoas de diferentes faixas etárias.
A 'task force' pretende, na semana de 06 de junho, começar a vacinar a faixa etária dos 40 aos 49 anos e, na semana de 20 de junho, o grupo dos 30 aos 39.
Links úteis
- Atualização semanal da execução do Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19
- Covid-19 DGS - relatórios de situação diários
- Covid-19 DGS/Ministério da Saúde - mapa dos números
- ECDC - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas na Europa
- Universidade de Oxford - dados sobre evolução da vacinação contra a covid-19
- Bloomberg - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas no mundo
- London School of Hygiene & Tropical Medicine - gráfico que mostra o progresso dos projetos de vacinas
- Agência Europeia dos Medicamentos
- Especial sobre o novo coronavírus / Covid-19
- Linha SNS24
- Direção-Geral da Saúde (DGS)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças