Abdul Bashir, refugiado afegão que vivia em Portugal há um ano, invadiu o Centro Ismaili em Lisboa e matou, com recurso a uma faca, duas mulheres. Para analisar este ataque, as possíveis motivações e o contexto em que vivem os refugiados afegãos em Portugal, Ângelo Correia, ex-ministro da Administração Interna, esteve em direto na SIC Notícias.
O antigo ministro da Administração Interna começa por enumerar as qualidades da comunidade ismaili que habita em Portugal, descrevendo-a como “muito empreendedora”.
"Em Portugal tem imensos patrimónios. É uma comunidade muito bem aceite empresarialmente, mas também o é do ponto de vista social. Através de Portugal, a ação que a comunidade ismaelita faz, por exemplo, em Moçambique, não estou a exagerar dizendo que são dezenas de milhares, talvez 60 mil pessoas que são pessoas que beneficiam do apoio da comunidade esmaili em Portugal", revela.
Trata-se de um “atentado é estranho”, considera, porque o suspeito é um "rapaz, viúvo, com três filhos menores a cargo, mas tinha uma característica era apoiado pelo próprio Centro Ismaili, logo não havia contencioso, [pelo contrário] havia uma ação de ajuda".
"Logo o que ele [o suspeito] faz parecer que é explicado por perturbações mentais, ele andava em tratamento psicológico na Cruz Vermelha, não sei se tinha suspendido, mas sei que estava a ser acompanhado", afirma.
“Este rapaz era uma vítima e transformou-se em vitimizador”
O antigo ministro relembra que o agressor é refugiado e que chegou a Portugal depois de ter atravessado a Grécia e a Turquia.
Este rapaz chegou da Grécia "com uma coisa que não é detetada: sofrimento".
"Este rapaz era uma vítima e transformou-se em vitimizador. É uma pena verificar que o comportamento dele se alterou. Agora, encontrar aqui uma base de terrorismo, com o devido respeito e à primeira vista, nada parece assim ser", atira.
Segundo o presidente da Comunidade Afegã em Portugal, este homem chegou a Portugal sem os pais.
"A guerra separa e destrói famílias, por isso é que temos de olhar para um refugiado como um ser humano que sofre e não como um ser humano igual a nós próprios. Se não tivermos essa consideração, estamos a cometer um erro", diz.
Ângelo Correia afirma ainda que existem suspeitas de que haveriam "problemas de tensão insuperáveis na vida familiar" do homem que poderão ter motivado o ataque.
"Culpabilizar comunidades e Portugal seria um duplo erro”
O ex-ministro prossegue dizendo que "o pior" que se poderia fazer neste momento seria culpabilizar comunidades e Portugal. Se tal acontecesse, refere, seria um "duplo erro":
"Nós temos de considerar isto um caso isolado, único, específico, com condições particulares, mas não podemos nunca generalizar"
Ângelo Correia refere que Portugal "não pode ser apenas uma porta aberta", sendo essencial "receber bem", dando o exemplo de uma comunidade ucraniana que reconhece que "não está a ser tratada".
“Ou seja, nós somos muito generosos no discurso, mas às vezes a prática não corresponde ao discurso. E pior, não corresponde às expectativas e às esperanças que o refugiado puseram em Portugal”, profere.
Revela que já existia informação de que o "jovem sofria muito e que estava perturbado" por todas as questões que enfrentou na sua vida. Apesar de ser acompanhado pela comunidade, Ângelo Correia revela que, segundo lhe foi dito, o agressor que vitimou duas pessoas "tinha suspendido" esse mesmo apoio.