O Futuro do Futuro

“O automóvel com uma autonomia de 1000 quilómetros estará para breve”, afirma cientista que criou bateria que se autocarrega

Se depender das previsões de Helena Braga já não deverá muito para que os carros elétricos com autonomias de 1000 quilómetros se comecem a vulgarizar. Em entrevista ao Futuro do Futuro, a cientista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto admite desconfiança face à indústria quando se trata de proteger uma patente e aponta o sal como matéria abundante que poderá vir a transformar o fabrico de baterias nos tempos mais próximos

Helena Braga, investigadora e professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), admite que dificilmente se consegue controlar uma potencial violação de patentes relativamente a um novo conceito de baterias que se autocarregam. “É difícil ir comprar um automóvel e desmontar para ver se efetivamente é a minha bateria. Essa é parte que, dificilmente, um investigador vai controlar”, responde a cientista no podcast Futuro do Futuro.

A cientista, que é uma das referências internacionais no desenvolvimento de baterias de nova geração, não esconde alguma desconfiança face a um eventual abuso de propriedade intelectual por parte da indústria. “Não sei mesmo se já alguém usou. Infelizmente não há nenhum contrato para a Universidade do Porto, mas já me chegaram várias vozes no sentido de que alguém estará a desenvolver”, refere a cientista.

Helena Braga, investigadora da FEUP, estima que os carros elétricos com autonomia de 1000 quilómetros jná não deverá tardar muito a chegar ao mercado
Nuno Fox

Na entrevista ao Futuro do Futuro, a investigadora portuguesa explica de que é feita a bateria que se autocarrega (e por isso reduz os custos associados ao uso da rede elétrica) e aproveita ainda para fazer uma pequena explicação sobre a forma de funcionamento das baterias.

“(O material) ferro-elétrico é um material que que tem estas propriedades de - e é um nome muito feio - polarizar espontaneamente. E isso vai acontecer a uma determinada temperatura, sem que seja fornecida energia”, explica Helena Braga durante a entrevista.

Em resposta aos dois desafios que costumam ser colocados no Futuro do Futuro, Helena Braga trouxe um excerto do filme Cinema Paraíso, e ainda uma ilustração que aponta para as diferentes vias de evolução das baterias para os próximos tempos.

Entre as propostas mais futuristas, o destaque vai para as baterias que permitem carregar dispositivos e equipamentos à distância sem recurso a cabos, e ainda os protótipos que usam eletrólitos que recorrem a sal, em vez de lítio. Uma bateria é constituída por dois elétrodos e um eletrólito que potencia ou controla a passagem de iões e eletrões entre os dois elétrodos, levando assim a bateria a carregar ou a descarregar.

Ilustração sopbre as bateria do futuro, que Helena Braga trouxe para o podcast

“O eletrólito pode ser feito nas várias configurações. Pode ser feito com lítio, pode ser feito com sódio, pode ser feito com potássio, mas neste caso o sódio é muito abundante e também tem essas propriedades de ser ferro-elétrico. Portanto, no eletrólito nós obviamente vamos cruzar um material mais abundante e que está disponível a todos nós, como é o sal, neste caso”, refere a cientista, que é hoje uma referência internacional no desenvolvimento de baterias de nova geração.

As baterias não pararam de evoluir nos últimos tempos e Helena Braga admite mesmo que já não faltará muito para que comecem a proliferar as primeiras casas que, através de eólicas e painéis fotovoltaicos consigam garantir a autonomia energética face à rede elétrica. Apesar da procura que se prevê em crescendo, as unidades de armazenamento de energia tendem a tornar-se mais acessíveis, estima Helena Braga com base nas notícias relacionadas com a instalação de novas fábricas na Europa e na China. “Os preços sem dúvida que vão baixar. As tecnologias podem tornar-se mais baratas, mas os preços vão baixar por mera concorrência”, prevê a cientista.

Os preços poderão baixar, mas a capacidade das baterias possivelmente vai subir. “O automóvel com uma autonomia de 1000 quilómetros estará para perto com estas novas tecnologias”, antevê Helena Braga.

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