A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador brasileiro, autorizou na quarta-feira o Instituto Butantan a importar, sob caráter excecional, a matéria-prima para a produção de 40 milhões de doses da vacina Coronavac.
O material será importado do laboratório chinês Sinovac, que mantém uma parceria com o Butantan, instituto vinculado ao governo de São Paulo, para desenvolvimento e produção do imunizante, que ainda se encontra na terceira fase de testes.
"A Anvisa autorizou hoje a importação em caráter excecional da vacina, na forma de um produto intermediário, isto é, produto não envasado, fabricada pela empresa Sinovac. (...) O Instituto Butantan deverá manter o produto nas suas instalações, e em perfeitas condições de acondicionamento, até que possa ser utilizado ou destruído", indicou a agência na sua lista de condições, frisando que "não há data prevista para a vacinação".
A decisão ocorre após críticas do Butantan sobre a demora da agência em autorizar o pedido, que havia sido feito em 23 de setembro.
Por sua vez, o diretor-presidente da Anvisa refutou as acusações e, em entrevista ao jornal O Globo, destacou que a agência deve avaliar com cuidado a questão, por se tratar de algo que pode oferecer risco à vida da população.
"Temos de lembrar que estamos a falar de algo que é muito sério. São medicamentos que vão ser apresentados para uso em seres humanos e quem dará o atestado da segurança desse produto, qualidade e eficácia, somos nós. Não estamos a tratar aqui de uma lista de compras. Não é isso, estamos a falar de desenvolvimento vacinal", advogou Antonio Barra.
Segundo o Butantan, os testes da Coronavac no Brasil mostram que o imunizante é o mais seguro entre todos os que estão na fase final de testagem, por apresentar o menor índice de efeitos colaterais.
A aprovação por parte da Anvisa foi celebrada pelo governador do estado de São Paulo, João Doria, que destacou tratar-se da "vacina mais promissora do mundo".
"Agradeço à Anvisa pela aprovação da importação da matéria-prima para a produção nacional da vacina contra a covid-19. Desta forma, poderemos produzir a Coronavac aqui em São Paulo, no Instituto Butantan, que há 120 anos presta serviços ao país e produz vacinas para os brasileiros", escreveu João Doria na rede social Twitter.
"Ressalto que a Coronavac está na fase três de testes, a última fase que antecede o seu lançamento. Até aqui, é considerada a vacina mais promissora do mundo. Um passo importante na luta contra o coronavírus para salvar vidas", acrecentou Doria, que se tem debatido com o Presidente do país, Jair Bolsonaro, que não apoia a aplicação do imunizante da chinesa Sinovac no país.
Coronavac tem sido alvo de uma forte disputa política no Brasil
O Governo de São Paulo assinou um contrato com a Sinovac que incluiu a aquisição e distribuição de 46 milhões de doses do imunizante.
Por sua vez, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou na semana passada a intenção do Governo central de comprar mais 46 milhões de doses da fórmula chinesa, ainda em estudo.
Porém, Bolsonaro desautorizou o seu ministro, através das redes sociais, e vetou a compra da Coronavac, argumentando que o imunizante ainda nem sequer havia superado a fase de testes clínicos.
A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo - firmado pelo seu Governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca - para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.
AS VACINAS MAIS PROMISSORAS NO COMBATE À COVID-19
Laboratórios por todo o mundo estão numa corrida contra o tempo para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus. Há dezenas de equipas a testar várias candidatas a vacina, algumas estão mais avançadas e são promissoras, mas os cientistas avisam que nenhuma deverá estar pronta antes do fim deste ano ou mesmo no próximo ano.
Segundo o London School of Hygiene & Tropical Medicine, (que tem um gráfico que mostra o progresso das experiências) há 248 projetos e 51 estão na fase de ensaios clínicos, sendo que 10 estão na fase III - que consiste na inoculação da vacina em milhares de voluntários a fim de determinar se impede de facto a infeção.
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O projeto entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca é um dos mais promissores, a que se juntam os da Pfizer e da BioNTech, da Moderna, dos laboratórios Sanofi e GSK, de vários projetos chineses, nomeadamente da CanSinoBIO que já obteve autorização para administrar a vacina em militares chineses.
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