Tomar decisões difíceis contra a expectativa dos próximos e do próprio partido é uma das marcas políticas de Jorge Sampaio. O antigo Presidente da República morreu esta sexta-feira, dia 10 de setembro.
Jorge Sampaio entrou definitivamente para a História em 1989 quando anunciou "o Candidato a Lisboa obviamente sou eu". Os generais do PS tinham-se recusam a concorrer à câmara da capital com medo de perder e à espera que essas eleições apeassem o então secretário-geral do PS.
Sustentado no primeiro acordo à esquerda na História da democracia, Sampaio ganha a Marcelo Rebelo de Sousa à frente duma coligação PS/PCP.
Derrotado por mais de 20 pontos de diferença nas legislativas de 91 contra Cavaco Silva, é obrigado a abandonar a liderança do PS. Continua na câmara onde executa um ambicioso programa de erradicação das barracas.
Jorge Sampaio, Presidente da República
O sucesso na governação de Lisboa levo-a a pedir a desforra a Cavaco nas presidenciais de 96. Ganha e torna-se Presidente da República.
Tornou-se rapidamente no Presidente com mais vetos a diplomas do Governo.
É o primeiro Presidente da República a conduzir o próprio carro durante uma madrugada para conseguir acompanhar a situação em Timor-Leste a partir do Palácio de Belém.
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O segundo mandato presidencial reservou-lhe um mar de problemas. Chegou a obrigar Guterres a demitir o ministro-adjunto Armando Vara na sequência dum escândalo na Prevenção Rodoviária Portuguesa.
Em 200, derrotado numas eleições autárquicas, o primeiro-ministro só vê um pântano pela frente e desiste. Durão Barroso sucede-lhe para governar um país de tanga, como então disse.
Manuela Ferreira Leite é a ministra das Finanças e apanha por tabela num discurso do 25 abril. Sampaio avisa-a que há mais vida além do Orçamento.
O grande choque dá-se com a cimeira dos Açores, em que Durão Barroso se colocou na fotografia da declaração da guerra ao Iraque. Mantido à margem do processo, Sampaio discorda frontalmente e proíbe o envio de tropas portuguesas, obrigando o governo a recorrer à GNR.
Pouco depois, Barroso é o segundo a desistir: aceita o lugar de presidente da Comissão Europeia na condição de entregar o poder a Santana Lopes sem eleições.
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Sampaio dissolve a Assembleia
Depois de quatro dias de reflexão, toma a mais grave de todas as decisões: com o PS a braços com o processo Casa Pia, Jorge Sampaio dá posse a Pedro Santana Lopes.
Seis meses depois, uma sucessão de confusões e mal-entendidos no novo governo levantaram-no a tomar uma decisão radical. Dissolve a Assembleia da República e convoca eleições, que abririam a porta a José Sócrates e à primeira maioria absoluta do PS.
Jorge Sampaio deixou a Presidência da República em 9 de março de 2006. Recusou de forma taxativa e desagradado todos reptos para protagonizar uma terceira candidatura presidencial.
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