O ex-membro do CDS-PP, Adolfo Mesquita Nunes, explica, em declarações exclusivas à SIC Notícias, a sua saída do partido, acusando o CDS-PP de "desistir de ter uma vida institucional própria" e de ter "visão afunilada", defendendo que os nomes que saíram do partido podem, legitimamente, "pensar que [estavam] a mais".
Em exclusivo para a SIC Notícias, o agora independente Adolfo Mesquita Nunes diz que houve duas razões para a sua desfiliação do partido, defendendo que não saiu por discordâncias com esta direção.
Afirma que "o CDS de hoje está estruturalmente diferente" do que aquele em que se filiou, e que "quer continuar a ser".
"Não faz mais sentido que continue", revela.
"O CDS desiste de ter uma vida institucional própria"
A primeira razão que indica para a sua saída é a de que "o CDS desistiu de ter uma vida institucional própria".
"O CDS aceitou prescindir de um Congresso ordinário marcado para que esta direção não fosse a eleições, prescinde de ir a eleições e escolher com que líder vai a eleições legislativas".
Mesquita Nunes aborda, igualmente, a questão de Francisco Rodrigues dos Santos, inicialmente, "defender que ia ser da Direita verdadeira e que o PSD era de centro-Esquerda, e agora quer uma coligação sem ir a Congresso".
"O CDS desiste de ser o partido que alberga as diferentes Direitas"
A segunda razão que Adolfo Mesquita Nunes aponta é a de que "o CDS desiste de ser o partido que alberga as diferentes Direitas", passando a ser "o partido que odeia essas Direitas, em nome de uma "visão afunilada".
O ex-centrista apela a uma reflexão sobre os líderes do CDS, que, segundo Mesquita Nunes, representam diferentes formas e sensibilidades de como ser de Direita, e lança:
"Esta diversidade passou a ser vista como fraqueza."
O comentador lança que "o partido entrou numa espécie de campeonato para ver quem era o mais de Direita, o mais cristão, o mais puro".
"Há parte do partido que é liberal, esta parte existe e tem que se aceitar, a força do CDS residia aí", relembra.
Para Adolfo Mesquita Nunes, nem todos os militantes do CDS-PP "pensam da mesma maneira, mas [partem] todos do mesmo princípio: o CDS é o partido da Direita das liberdades, e agora acho que o CDS não quer ser nada disto".
"A reação é esta [a desfiliação], pois é legítimo pensarmos que estávamos a mais."
O comentador relembra que lembrou, "em janeiro deste ano, alertar o partido para a situação e propus-me a ser candidato".
"Houve uma mudança de ciclo, procurei ser candidato e o partido não quis, é legítimo."
Adolfo Mesquita Nunes diz, também, que "não aceita lições nenhumas de ninguém", e sobre voltar, a "irrevogabilidade" da decisão parece existir.
"Estou convencido que este caminho é irreversível, senão não teria tomado esta decisão", refere o ex-centrista.
Por fim, sobre uma possível "transferência" para outra força partidária, o comentador diz que "25 anos de militância" implicam uma saída que não é de ânimo leve.
"Nunca pensei que, na minha vida não estivesse no CDS, nunca", dizendo, sobre uma possível filiação na Iniciativa Liberal, que acaba "de fechar uma porta de 25 anos, não faz sentido perguntar isto hoje".
O princípio do fim do CDS-PP?
O cenário dentro do CDS-PP continua sob fogo e cada vez mais preocupa os militantes de um dos partidos políticos mais antigos em Portugal, fundado em 1974.
Com o tónico das eleições antecipadas a agitar o universo centrista, a instabilidade reina na casa dos democratas-cristãos.
O atual presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, conseguiu aprovar o adiamento do congresso do CDS-PP para depois das eleições legislativas e, consequentemente, a escolha do novo líder.
Este sábado à tarde, o número um do partido evitou comentar o assunto, mas Nuno Melo, seu opositor, já reagiu à decisão do Conselho Nacional e disse que "este é um jogo que está viciado desde o primeiro dia", pedindo uma audiência ao Presidente da República.
"Está em causa o destino de um partido fundador da democracia em Portugal", diz o candidato a líder dos centristas.
Entretanto, iniciou-se uma vaga de saídas de militantes, alguns deles nomes fortes do panorama político português.
João Almeida, Pires de Lima, Michael Seufert ou Inês Teotónio Pereira são alguns dos militantes que estão de saída e que se juntam a Adolfo Mesquita Nunes.
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