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Entrevista SIC Notícias

Covid-19. Plano de desconfinamento "deve estar em linha" com as doses de vacina disponíveis

Miguel Prudêncio sublinha que a imunização dos grupos mais vulneráveis é importante para "entrar no caminho de saída do túnel" da pandemia.

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A Direção-Geral de Saúde atualizou as normas sobre a administração da vacina da AstraZeneca, alargando a toma aos maiores de 65 anos, depois de vários estudos terem comprovado a eficácia do fármaco nesta faixa etária. Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa (IMM), lembra que as indicações iniciais era apenas “por prudência”.

“Em momento nenhum a vacina da AstraZeneca foi proibida ou restrita de forma objetiva a sua utilização a pessoas acima de 65 anos. O que foi feito foi desaconselhar a vacina acima dessa idade. Não por uma questão de riscos de segurança ou de eficácia, mas sim porque o número de pessoas que tinham participado nos ensaios clínicos acima dos 65 anos era relativamente reduzido”, explica à Edição da Tarde da SIC Notícias.

Vários países europeus optaram por determinar esse desaconselhamento, no entanto, nos últimos tempos, a decisão tem vindo a ser revertida. Em causa estão os estudos que têm vindo a ser publicados com dados recolhidos durante a administração desta vacina no Reino Unido, onde não houve qualquer limitação etária. Miguel Prudêncio afirma que estes dados permitem “com toda a confiança retirar essa restrição ou esse desaconselhamento de dar a vacina acima dos 65 anos de idade”.

O processo de avaliação das vacinas pelas agências reguladoras tem por base os dados fornecidos pelas farmacêuticas - referentes aos ensaios clínicos realizados. Porém, uma vez administradas na população, é também realizada uma monitorização do efeito protetor das vacinas nos pacientes.

Uma das vacinas que está a ser analisada pela Agência Europeia do Medicamento é a Sputnik V, a vacina desenvolvida na Rússia que já está a ser administrada em países europeus como a Hungria, a Eslováquia e a República Checa. A partilha dos dados, que depende das autoridades de saúde de cada país, poderá contribuir para a análise de eficácia do fármaco.

“Tendo em conta o intervalo entre a primeira e a segunda vacinações e o facto de ser necessário monitorizar durante algum tempo qual é o real impacto - em termos de desenvolvimento da covid-19 após a vacinação -, eu diria que dois ou três meses será suficiente para começarmos a ter alguns destes dados de campanhas de vacinação realizadas com a vacina”, prevê o investigador do IMM

O anúncio de que irão chegar mais vacinas a Portugal é, para Miguel Prudêncio, são “ótimas notícias”, uma vez que “o que limita a capacidade de vacinar é o número de doses disponíveis.

“Nós temos que fazer a melhor utilização possível das doses que vão ficando disponíveis. E qualquer plano de desconfinamento deve estar em linha de conta com essa previsão da disponibilidade de doses e também, obviamente, dos diferentes parâmetros que vão ser monitorizados para determinar como é que se pode desconfinar”, acrescenta.

Miguel Prudêncio considera que proteger os grupos de risco é “um primeiro passo fundamental e essencial no sentido do desconfinamento”.