O antigo ministro das Finanças, Rishi Sunak, era favorito a suceder a Boris Johnson depois de se ter demitido em julho. Contudo, em setembro não conseguiu persuadir os membros conservadores, que colocaram Liz Truss no número 10 de Downing Street. Agora, é o sucessor de Liz Truss após a governação mais curta da história do Reino Unido.
Especialista em finanças e economia, a campanha de Rishi Sunak focou-se essencialmente numa questão: o agravamento do estado da economia do Reino Unido e um plano para resolver este problema.
Durante a disputa, Rishi Sunak disse à BBC que preferia perder a corrida pela liderança conservadora do que “ganhar com uma falsa promessa”. O mote era consertar a “profunda crise económica” e “unir o partido”.
Com a eleição de Liz Truss, Sunak afastou-se da política e recusou comentar as turbulências que marcaram o Governo da primeira-ministra.
MINISTRO DAS FINANÇAS DURANTE PANDEMIA
Apresentou-se ao público em fevereiro de 2020 e em poucas semanas teve que orientar a economia do Reino Unido quando a pandemia e as restrições despoletaram.
Na altura, como ministro das Finanças, prometeu fazer tudo o que estava ao seu alcance para ajudar as pessoas e avançou com um apoio de 350 mil milhões de libras.
Mas caiu em desgraça entre os militantes, nomeadamente devido ao aumento da contribuição para a Segurança Social para financiar a pesada despesa com a saúde e assistência social, e por ter desempenhado um papel influente na queda abrupta de Boris Johnson.
Ainda assim, o Reino Unido continuou a ser atingido por um clima tempestuoso em Downing Street, quando Sunak teve que lidar com as consequências de ser multado pela polícia por violar as restrições da covid-19.
Em abril, alguns críticos conservadores questionaram se o ministro tinha noção das consequência do aumento do custo de vida, que estava a afetar várias famílias. Para além disso, as finanças de Sunak e a própria família ficaram sob intenso escrutínio nesse mês.
O jornal Independent sugeriu que Sunak já tinha beneficiado de paraísos fiscais nas ilhas Virgens Britânicas e nas ilhas Cayman em 2020.
Sunak é o primeiro-ministro mais rico, com uma fortuna familiar de cerca de 730 milhões de libras, segundo o Independent.
Durante a sua primeira campanha eleitoral, Sunak posicionou-se como um candidato que não abafa duras verdades sobre a situação das finanças públicas.
‘PRIMEIRO’ PRIMEIRO-MINISTRO NÃO BRANCO NA HISTÓRIA BRITÂNICA
Descendente de indianos e hindu praticante, o antigo ministro das Finanças britânico Rishi Sunak vai tornar-se, à segunda tentativa, no primeiro chefe de Governo não-branco do Reino Unido e o mais jovem das últimas décadas.
O político de 42 anos foi declarado líder do Partido Conservador, sem oposição depois da desistência de Penny Mordaunt e do antigo primeiro-ministro Boris Johnson, e deverá ser indigitado chefe de Governo nas próximas horas.
A subida ao posto menos de dois meses depois de ter sido derrotado por Liz Truss na eleição para a liderança do Partido Conservador é igualmente surpreendente e irónica.
A primeira-ministra demissionária renunciou na quinta-feira, após tentar implementar um programa económico que Sunak avisou que seria “irresponsável” porque iria aumentar a dívida pública, agravando a inflação e as taxas de juro, o que veio a acontecer.
RISHI SUNAK INVOCA ORIGENS HUMILDES
Sunak e a esposa Akshata Murty, filha de um magnata indiano co-fundador da multinacional Infosys, entraram este ano para a 222.ª posição da lista dos mais ricos do jornal Sunday Times.
Porém, o antigo analista financeiro tem invocado as origens humildes dos avós imigrantes, que chegaram ao Reino Unido nos anos 1960, e dos pais, um médico e uma farmacêutica que trabalharam para dar aos filhos uma boa educação e oportunidades.
Os britânicos devem julgá-lo "pela personalidade e ações, não pela conta bancária”, argumentou várias vezes durante a campanha no verão.
ALUNO DE OXFORD QUE TRABALHOU PARA GOLDMAN SACHS
Nascido em 12 de maio de 1980 na cidade inglesa de Southampton, Rishi Sunak é o mais velho de três irmãos. Depois de se licenciar em Filosofia, Política e Economia (PPE) em Oxford, completou os estudos com um MBA na Universidade de Stanford nos EUA, onde conheceu a esposa.
O casal tem duas filhas, Krishna e Anoushka, de 11 e nove anos, respetivamente.
Após trabalhar para o banco de investimento Goldman Sachs e outras instituições financeiras, Sunak entrou para a política, destacando-se como um partidário acérrimo da saída do Reino Unido da União Europeia.
ASCENSÃO METEÓRICA APÓS CAMPANHA PELO BREXIT
Em 2015, foi eleito deputado pela circunscrição de Richmond no condado de Yorkshire, no norte de Inglaterra, uma região essencialmente rural e tradicionalmente conservadora que antes foi representada pelo líder ’tory’ William Hague.
Desde então, teve uma ascensão meteórica devido ao envolvimento ativo na campanha pelo Brexit em 2016, tendo inclusive representado Boris Johnson em vários debates televisivos nas eleições legislativas de 2019.
DEMISSÃO
Na carta de demissão, a 5 de julho, Sunak alegou que os princípios de boa conduta "importam" e distanciou-se da falta de "seriedade e competência” do então primeiro-ministro.
Tanto na eleição que perdeu para Liz Truss como nesta que hoje terminou, foi o candidato com mais votos entre os deputados conservadores.
Mas, mesmo depois de a turbulência económica dos últimos meses terem mostrado que tinha razão na abordagem prudente à economia, Sunak continua a dividir opiniões e muitos dos militantes acusam-no “trair” e "apunhalar nas contas" o popular Boris Johnson.