O ex-ministro Manuel Pinho foi, esta terça-feira, detido depois de ter comparecido em tribunal para interrogatório. Ana Gomes comenta a atuação da justiça portuguesa nos casos de Manuel Pinho e João Rendeiro.
A comentadora da SIC diz que, “a avaliar pelo que se sabe”, parece não haver novos elementos que justifiquem o perigo de fuga do ex-dirigente, mas admite que o Ministério Público possa ter mais informações que ainda não sejam conhecidas.
“Se calhar, ele vai sair de lá só com a medida de coação agravada, nem sequer prisão. A não ser que haja os tais elementos de perigo de fuga, que não sabemos se existem ou não, mas que os advogados dizem que não. E o facto de ter comparecido sempre também sugere que não. Até hoje não lhe foi apreendido o passaporte”, afirma Ana Gomes em entrevista à Edição da Tarde.
Ana Gomes recusa ainda a teoria – que tem vindo a ser defendida por Rui Rio e Marinho e Pinto – de que a justiça está a ser instrumentalizada para fins eleitorais. No entanto, mostra-se preocupada com a possibilidade desta detenção ter ocorrido para abafar a prescrição dos eventuais crimes de três ex-ministros
“Espero que este caso não seja para desviar as atenções deste outro que é altamente gravoso para a imagem da eficácia da justiça”, afirma, acrescentando que, “a falta de meios não justifica tudo, não justifica a falta de vontade política, falta de competência”.
A socialista não percebe porque é que o caso de Manuel Pinho “não foi julgado”, tendo em conta que já existem provas que o ex-ministro recebeu dinheiro do BES enquanto exercia funções governativas.
Sobre o caso de João Rendeiro, Ana Gomes afirma não conhecer a forma de atuação das autoridades sul africanas, mas sublinha que se deve dar o “benefício da dúvida”.
“Em última análise, depende do próprio Rendeiro se, na perspetiva de poder vir cumprir prisão preventiva numa prisão sul africana, ele prefira voltar a Portugal, sabendo que as condições das prisões não são as mesmas”, afirma a comentadora, acrescentado que o ex-presidente do BPP “poderá estar a jogar na possibilidade de ficar com uma medida de coação que não a prisão preventiva ou a prisão domiciliária, e aí ele tem dinheiro dos offshores”.
Ana Gomes critica ainda o sistema de Vistos Gold e deixa críticas ao Governo português por nunca ter publicado a lista de pessoas em Portugal que beneficiaram deste autorização de residência.
“É claro que sabemos hoje que este tipo de gente compra os passaportes que quiserem, porque é para isso que servem os Vistos Gold e é por isso que eu me tenho indignado que o nosso país seja parte desse mesmo esquema. Quantos Joões Rendeiros estarão no nosso país a viver uma boa vida à custa dos Vistos Gold concedidos por nós? Em Portugal, nem sequer a lista dos beneficiários dos Vistos Gold foi publica pelo Governo.”
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