Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo chegaram juntos este sábado de manhã ao pavilhão do Alto do Moinho, Seixal, onde foram recebidos com fortes aplausos dos militantes presentes na Conferência Nacional.
De punhos no ar e a gritar "PCP/PCP", os militantes e delegados receberam os dois dirigentes comunistas. Jerónimo de Sousa cumprimentou vários dirigentes, entre eles, João Oliveira e João Ferreira e foi novamente aplaudido, desta vez durante três minutos.
Num discurso de 40 minutos, Jerónimo de Sousa, reconheceu que o partido tem dificuldades e insuficiências que "importa superar" e apelou à resistência dos comunistas contra a "brutal ofensiva" em curso.
"Sabemos dos impactos negativos nos planos eleitorais, de expressão institucional, das nossas dificuldades, das nossas insuficiências e atrasos que estão identificados e importa superar", disse.
Ao longo dos últimos anos, continuou Jerónimo de Sousa, o PCP foi alvo de "campanhas de deturpação das suas posições, das calúnias e das tentativas de chantagem", assim como de tentativas de "condicionamento e silenciamento", em resultado da "sua corajosa intervenção".
Jerónimo de Sousa reconhece que o "caminho é duro" e aponta o dedo à "classe dominante, os senhores do mando no país", que perenta esta "ofensiva" queria que o PCP tivesse "abdicado de princípios e objetivos, se submetesse à sua agenda" e 'fechasse os olhos' às "opções de classe do PS, os projetos das forças reacionárias, a natureza da NATO, a guerra e as sanções".
O secretário-geral cessante descansou os militantes que receavam uma mudança de rumo do PCP e falou para a "classe dominante": “Enganaram-se e vão continuar enganados!”.
"Governação mostra um PS cada vez mais inclinado para a direita"
Jerónimo de Sousa acusou a governação de maioria absoluta de mostrar "um PS cada vez mais inclinado para a direita" e considerou que os socialistas, PSD, CDS e IL e Chega encenam e empolam divergências.
"Hoje está muito claro qual é o sentido da governação do PS maioritário e quão verdadeira era a palavra do PCP quando afirmava que o PS não queria resolver os problemas nacionais, mas tão só romper com a política de defesa, reposição e conquista de direitos e criar condições para retomar na plenitude a política de direita que sempre teve como sua", acusou Jerónimo de Sousa, na abertura dos trabalhos da Conferência Nacional do PCP, em Corroios, concelho do Seixal.
Para Jerónimo de Sousa, a governação socialista "mostra um PS cada vez mais inclinado para a direita", ao fazer opções de política económica e orçamental que conduzirão ao "perigo de uma nova fase de definhamento económico e e degradação social".
"As recentes alterações do quadro político", continuou o líder cessante do PCP, vão "replicar, senão aprofundar a evolução negativa do país que décadas de política de direita impuseram".
E a maioria absoluta que António Costa alcançou nas eleições legislativas de janeiro só foi alcançada com uma "operação de chantagem e mistificação".
Segundo o secretário-geral comunista, a alteração no quadro político decorrente das eleições traduziu uma "ampla promoção" das forças reacionárias num quadro em que PS e os partidos de direita "empolam e encenam" uma oposição entre si quando na verdade tem uma "ação convergente" em aspetos essenciais.
Jerónimo de Sousa mostrou-se preocupado com "a nova situação da expressão institucional e ampla promoção das forças e projetos reacionários, designadamente PSD, CDS, IL e Chega, com agendas de natureza retrógrada, demagógica, neoliberal ou fascizante".
O dirigente comunista alertou para uma "intensificação da campanha antidemocrática, de forte pendor anticomunista, que tende a recrudescer", na qual "sobressai a ação revanchista do grande capital, que julga ter chegado o momento de subir o nível de confrontação de classe e levar mais longe o ajuste de contas com os valores e as conquistas de Abril".
"Evidente nos mais recentes desenvolvimentos é o explícito e crescente confronto com a Constituição da República por parte das forças reacionárias, com o objetivo da sua revisão e subversão, a par da promoção de alterações de sentido antidemocrático às leis eleitorais e à legislação laboral. O início do processo de revisão constitucional agora avançado e a olhar para a experiência passada de concertação entre o PS e o conjunto das forças reacionárias, inimigas da Constituição de Abril, não nos pode deixar descansados", avisou.
Jerónimo deixa avisos sobre processo de revisão constitucional
Mais à frente no seu discurso, Jerónimo voltou a deixar avisos sobre processo de revisão constitucional que deverá iniciar-se após a votação do Orçamento do Estado para 2023.
No futuro, Jerónimo de Sousa quer um PCP a "defender a Constituição da República e combater quaisquer projetos de revisão constitucional que promovam a descaracterização da Lei Fundamental ou a alteração das leis eleitorais, visando diminuir o pluralismo da representação política e eternizar a política de direita" - frase que mereceu aplausos da plateia.
Num humor já seu característico, Jerónimo de Sousa parou a sua intervenção para dizer: "Obrigado, camaradas, assim ajuda mais", soltando alguns risos na plateia.
Este foi o último discurso de Jerónimo de Sousa enquanto secretário-geral do PCP e em 10 páginas de discurso durante 40 minutos, houve apenas uma frase improvisada: “O vento está duro e forte mas estamos de frente”.
Militantes despedem-se de Jerónimo de Sousa com ovação de cerca de sete minutos
Terminada a sua intervenção na quarta Conferência Nacional do PCP, que decorre no pavilhão do Alto do Moinho, no Seixal, distrito de Setúbal, Jerónimo de Sousa deslocou-se para junto dos seus 'camaradas' e foi fortemente aplaudido pelos delegados presentes.
Durante cerca de sete minutos, delegados novos e velhos, com várias centenas de punhos erguidos, aplaudiram Jerónimo de Sousa e ouviram-se alguns lemas clássicos dos comunistas, como "assim se vê a força do pêcê" ou "a luta continua".
Esta foi a última intervenção de Jerónimo de Sousa na qualidade de secretário-geral do PCP, depois de 18 anos à frente dos comunistas. Depois do discurso de Jerónimo de Sousa, os delegados e militantes saíram para um intervalo nos trabalhos, que terminarão no domingo.
Paulo Raimundo eleito secretário-geral do PCP
O PCP anunciou há uma semana que Jerónimo de Sousa ia deixar de ser secretário-geral do PCP por razões de saúde e que Paulo Raimundo era o nome proposto para o substituir. Paulo Raimundo, de 46 anos, vai ser eleito o quarto secretário-geral do PCP depois de uma reunião do Comité Central.
Entre o "caderno de encargos que Jerónimo deixou ao seu sucessor, no plano da organização interna, está o desenvolvimento da ligação e do trabalho com outros democratas e patriotas" "seja no âmbito da CDU seja num plano mais largo" assumindo a realização de contactos regulares a partir de cada uma das organizações com aqueles que se destacam na vida coletiva".
A Conferência Nacional do PCP, a quarta em 100 anos, organizada com o objetivo de reenquadrar a ação do partido em contexto de maioria absoluta do PS, aumento da inflação e consequente degradação das condições de vida da generalidade da população, e também de incerteza em relação ao redesenho do mapa geopolítico internacional.