A polémica indemnização da TAP a Alexandra Reis motivou a demissão do ministro Pedro Nuno Santos. É a 10.ª demissão no Governo de António Costa desde as eleições de janeiro. Para Eunice Lourenço, editora de Política do Expresso, a saída do ministro das Infraestruturas não traz explicações sobre o caso que envolve a agora ex-secretária de Estado do Tesouro e considera que o Executivo fica muito fragilizado.
“O que eu gostava muito que fosse esclarecido sobretudo por Pedro Nuno Santos é porquê é que Alexandra Reis é indicada para a NAV [Navegação Aérea]. E porquê do pedido de parecer ter dado entrada na CReSAP seis semanas depois de ela sair da TAP para ir para NAV. O cargo na NAV estava vago desde agosto de 2021”, lembra Eunice Lourenço
A jornalista sublinha que os ministros envolvidos nestes caso têm explicações para dar no Parlamento, que já foram pedidas pelos partidos da oposição, e que não têm sido prestados esclarecimentos aos órgãos de comunicação social.
“Importa explicar como é que ministros com as supostas capacidades e evidentes ambições políticas, como Pedro Nuno Santos e Fernando Medina têm, não se deram ao cuidado de verificar tudo aquilo que António Costa chamou de ‘antecedentes’ de Alexandra Reis. Tendo-os verificado, não ponderaram ou avaliaram as consequências políticas que um caso como este teria para o Governo.”
Para Eunice Lourenço, ao nomeação de Alexandra Reis deveria ter chegado ao primeiro-ministro, principalmente depois do caso que levou à demissão do secretário de Estado Adjunto Miguel Alves. “Depois do caso Miguel Alves, como é que não houve o cuidado e a devida ponderação política dentro do Governo em cada nome escolhido para tomar posse a 2 de dezembro?”, questiona a jornalista.
Essa é uma das lições que, de acordo com a editora de Política do Expresso, António Costa deverá retirar deste caso: “Os próximos nomes têm de ser muito bem escolhidos, verificados”, uma vez que o “escrutínio é muito grande”. Além disso, Eunice Lourenço considera que o primeiro-ministro deve tirar a ilação de que “mais vale resolver os problemas rapidamente” e também trabalhar na relação que terá Pedro Nuno Santos nos próximos tempos.
O ex-ministro Pedro Nuno Santos “está disposto a ir para o Parlamento”, onde irá fazer “uma passagem de quatro anos à espera do seu momento”, prossegue a jornalista.
“É público, notório, assumido que ele é uma espécie de candidato a candidato da liderança do PS. Ele acha que ao assumir responsabilidades e ao sair até se reforçou e sai melhor do que teria saído no verão. Eu acho que é muito discutível essa leitura, porque a falta de avaliação política dele neste caso é mais grave que o caso do aeroporto.”
Eunice Lourenço comenta ainda a posição de Marcelo Rebelo de Sousa no desenrolar deste caso: “Marcelo, por um lado, pressionou, por outro lado, acho que ele esteve muito coordenado com António Costa e acabou por ajudar sobretudo o primeiro-ministro – não diria tanto o Governo – a resolver este caso.” A jornalista lembra ainda o alerta do Presidente da República de que poderiam ser necessárias mexidas no Executivo.