Extremos

“O racismo sempre esteve aqui”

Entrevistas a Bruno Gonçalves, Mamadou Ba e Joana Gorjão Henriques.

“O racismo sempre esteve aqui”
MANUEL FERNANDO ARAUJO

Os números da discriminação étnico-racial em Portugal mostram que o racismo é sistemático e estrutural no nosso país, trazendo muitas desigualdades à vida coletiva. O Extremos falou com dois ativistas antirracistas e uma jornalista para perceber o que nos dizem – e não dizem – esses números.

Para Bruno Gonçalves, vice-presidente da Associação Letras Nómadas, existe um padrão de representações sociais “monstruosas” sobre alguns grupos, em particular a comunidade cigana.

“Somos vítimas de um aparelho de Estado que nos persegue há cinco séculos”, afirma.

Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, sublinha que, se até há pouco tempo o racismo não tinha uma grande estrutura política, acontecimentos recentes mostram que “o racismo sempre esteve aqui”.

“Quando André Ventura faz passeatas a dizer que Portugal não é um país racista, em contraponto com manifestações antirracistas, na verdade, se quiséssemos caricaturar aquela faixa, podemos encontrar uma tradução básica, que é: eu sou racista, e depois?”, constata.

Já Joana Gorjão Henriques, jornalista do Público que escreve sobre temas ligados aos direitos humanos, diz que é preciso olhar para o racismo para além da “mera ofensa pessoal” e perceber como é que ele afeta as condições de vida das pessoas.

“Não é uma mera discriminação de um para um, é um sistema que cria desigualdades”, refere.

No entanto, os números que existem não são suficientes para abordar problemas de base. Para a jornalista, uma das formas de combate ao racismo passa precisamente pelos dados.

“A única maneira que temos de atacar o problema em termos institucionais e estruturais é com dados, é com números, é com políticas públicas aliadas aos dados”, conclui.

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É um projeto patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian que terá uma expressão multimédia e que incluirá um conjunto de grandes reportagens que a SIC emitirá em fevereiro de 2021. O projeto resulta de uma parceria estabelecida entre a SIC e a NOVA FCSH e pretende mergulhar no difícil tópico do “populismo radical que alimenta a direita nacionalista e antissistema europeia” - título que esconderá derivas em direção aos extremos; em direção ao quadro que molda a extrema direita.