O prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído aos jornalistas Maria Ressa (Filipinas) e Dmitry Muratov (Rússia) “pelos seus esforços em salvaguardar a liberdade de expressão, condição essencial para a democracia e para uma paz duradoura” nos respetivos países, anunciou o Comité Nobel Norueguês.
Maria Ressa e Dimitri Muratov “são os representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo onde a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais desfavoráveis”, declarou a presidente da comissão do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo.
"Sem liberdade de expressão e liberdade de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso no nosso tempo. A atribuição deste ano do Prémio Nobel da Paz está, por isso, firmemente ancorada nas disposições da vontade de Alfred Nobel", acrescentou.
Maria Ressa, de 58 anos, é editora e cofundadora do site filipino de jornalismo de investigação Rappler.que denunciou "a polémica e assassina campanha antidrogas do regime do Presidente filipino Rodrigo Duterte", sublinhou o Comité Nobel.
A jornalista, que também tem nacionalidade norte-americana, foi condenada em junho por difamação, mas foi libertada sob fiança num caso em que pode ser condenada até seis anos de prisão.
Dmitry Muratov, de 59 anos, é um dos fundadores do jornal Novaya Gazeta, criado em 1993, e de que é chefe de redação há 24 anos, uma publicação muito crítica do Kremlin que enfrenta uma repressão feroz.
O Comité Nobel salientou que o jornal denunciou "a corrupção, a violência policial, as prisões ilegais, a fraude eleitoral e as 'quintas de trolls' e pagou um preço alto": seis dos seus jornalistas perderam a vida, incluindo Anna Politkovskaïa, morta há 15 anos.
O Kremlin já reagiu e elogiou a "coragem" e o "talento" do jornalista.
Muratov dedica o Nobel à Novaya Gazeta e aos jornalistas assassinados
O jornalista russo dedicou o seu Nobel da Paz ao jornal ao seu jornal e aos seus jornalistas que foram assassinados pelo seu trabalho e investigações.
“Não é mérito pessoal meu. É mérito de Novaïa Gazeta. É daqueles que morreram defendendo o direito das pessoas à liberdade de expressão”, disse, citado pela agência de notícias estatal TASS, e listando os nomes dos seis jornalistas e colaboradores de jornais assassinados, incluindo Anna Politkovskaya.
“É a melhor época para ser jornalista", diz Maria Ressa
A atribuição do Nobel da Paz aos dois jornalistas prova que “nada é possível sem os factos”, afirmou a filipina Maria Ressa, numa entrevista transmitida em direto no site de investigação onde trabalha, Rappler.
"Um mundo sem factos significa um mundo sem verdade e sem confiança".
A jornalista disse ter ficado "em choque" com o anúncio do prémio e garantiu que o Rappler "continuará a fazer o que fazemos".
“É a melhor época para ser jornalista. Estes momentos em que é mais perigoso são os momentos em que é mais importante" ser jornalista, afirmou
Os últimos 10 laureados com o Nobel da Paz
- 2020: o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM) "pelos esforços em acabar com a fome no mundo".
- 2019: o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, "pelos esforços a favor da paz" e, em particular, pela "iniciativa determinada para resolver o conflito na fronteira com a Eritreia".
- 2018: o médico congolês Denis Mukwege e a yazidi Nadia Murad que trabalham para "pôr fim ao uso da violência sexual como arma de guerra".
- 2017: a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN) por contribuir para a adoção de um tratado histórico que proíbe as armas nucleares.
- 2016: o Presidente colombiano Juan Manuel Santos pelo seu compromisso com o fim do conflito armado com a guerrilha FARC.
- 2015: o Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia, atores da sociedade civil que ajudaram a salvar a transição democrática no país.
- 2014: Malala Yousafzai (Paquistão) e Kailash Satyarthi (Índia) “pela sua luta contra a opressão das crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”.
- 2013: a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), pelos esforços para livrar o planeta destas armas de destruição massiva.
- 2012: a União Europeia (UE), projeto que ajudou a pacificar um continente devastado por duas guerras mundiais.
- 2011: Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iémen), pela luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos de participação nos processos de paz.
Temporada Nobel 2021
Já foram entregues quatro dos Nobel deste ano
- Nobel da Literatura atribuído ao escritor Abdulrazak Gurnah
- Nobel da Física para trabalhos pioneiros nas previsões do aquecimento global
- Nobel da Medicina para descoberta sobre forma como nos apercebemos do calor, do frio e do toque
- Nobel da Química para "ferramenta engenhosa para construir moléculas"
O último anúncio será feito no dia 11 de outubro com o vencedor do Nobel da Economia.
Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem por "um mundo melhor".
O prémio consiste numa medalha, um diploma e dez milhões de coroas suecas (cerca de 950.000 euros).