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Opinião

Análise COP26: só com a China pode ainda haver um "grande acordo"

A ausência de Xi Jinping em Glasgow limitou, à partida, as expectativas desta cimeira. Os chineses são os maiores poluentes, embora também liderem na utilização das renováveis.

Análise COP26: só com a China pode ainda haver um "grande acordo"

O regresso temporário à aposta no carvão, para minimizar a pressão nos preços dos combustíveis e dar resposta à escassez energética no pós-pandemia, expõe o momento contraditório da relação de Pequim com a emergência climática.

A neutralidade carbónica até 2060 ainda deverá implicar um aumento de emissões até ao fim da década, em contraste com o que EUA e UE se comprometem a atingir até 2030. Mas pode ainda haver uma surpresa de última hora: Al Gore escrevia ontem ao fim do dia: "Progressos significativos entre os dois maiores emissores. O "joint statement" entre EUA e China envia sinal a todas as partes da COP26 de que a comunidade internacional está preparada para dar passos significativos no sentido de reduzir emissões poluentes nesta década, de modo a limitar o aquecimento global a 1,5 graus".

1 - RESPONSABILIZAR A CHINA

Na "reta da meta" desta longa cimeira, o "draft" para um futuro Acordo de Glasgow aponta para reduções na ordem dos 45% até 2030. A emergência climática só pode ter soluções globais, mas é importante quantificar responsabilidades. A China é responsável por 28% das emissões geradoras de efeito estufa – isso é mais que a soma de EUA e União Europeia juntas. Os combustíveis fósseis são a principal explicação para o peso chinês nestas contas: a China queima metade do carvão utilizado em todo o planeta e é o maior importador de crude à escala global. É, no entanto, verdade que a China é também a maior produtora e consumidora de energias renováveis: um terço dos painéis solares e das eólicas existentes a nível mundial estão na China. Cerca de 50% dos carros elétricos são chineses, 98% dos autocarros elétricos e 99% dos velocípedes elétricos.

2 - O TOP10 DOS EMISSORES DE DIÓXIDO DE CARBONO

A China é, de longe, o maior emissor de dióxido de carbono, com 11.500 megatoneladas, seguida dos EUA, com menos de metade das emissões dos chineses (5.100). Em terceiro e quarto estão União Europeia e Índia, com valores próximos (3.000 e 2.500, respetivamente), e depois a Rússia a completar o Top5 (1.800 megatoneladas). Bastante atrás, a completar o Top10, estão Indonésia, Brasil, Japão, Irão e Coreia do Sul (todos na casa dos 1000/1500).

3 - ANDAR SETE ANOS PARA TRÁS NA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA

Apesar dos avanços agrícolas importantes para alimentar o mundo nos últimos 60 anos, um estudo liderado por investigadores da Universidade Cornell mostra que a produtividade agrícola global é 21% menor do que poderia ter sido sem as mudanças climáticas. Isso é o equivalente a perder cerca de sete anos de aumento de produtividade agrícola desde 1960. "A mudança climática desacelerou o crescimento da produtividade agrícola global", conclui estudo publicado na Nature Climate Change. O trabalho foi liderado pelo economista Ariel Ortiz-Bobea, professor associado da Escola de Economia e Gestão Aplicada Charles H. Dyson em Cornell. "Descobrimos que a mudança climática basicamente eliminou cerca de sete anos de melhorias na produtividade agrícola nos últimos 60 anos", disse Ortiz-Bobea. “É equivalente a apertar o botão de pausa no crescimento da produtividade em 2013 e não experimentar melhorias desde então. As mudanças climáticas já estão nos desacelerando”.

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