A vacina contra a covid-19 da Johnson & Johnson/Janssen está a ser alvo de uma investigação pela Agência Europeia de Medicamentos por suspeita de provocar coágulos sanguíneos, a mesma suspeita (já quase uma certeza) que recai sobre a da Oxford/AstraZeneca.
Autorizada pela EMA a 11 de março passado, esta vacina de dose única ainda não está a ser administrada em nenhum Estado-membro da UE. Está prevista a chegada a Portugal ainda esta semana.
Eis cinco coisas a saber sobre esta vacina desenvolivda nos Estados Unidos:
• Concebida a partir de um vírus comum
A vacina Johnson & Johnson é uma vacina de vetor viral, tal como a da AstraZeneca/Oxford.
É utilizado um vírus de baixa virulência, transformado para adicionar instruções genéticas de parte do vírus responsável pela covid-19 - o SARS-CoV-2- que, uma vez nas nossas células, ensina o nosso sistema imunitário a reconhecê-lo e a atacá-lo.
• Prática e fácil de distribuir
A vacina tem várias vantagens logísticas. Requer apenas uma injeção, ao contrário das vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna ou AstraZeneca, que são administradas em duas doses com intervalo de várias semanas.
Além disso, pode ser armazenada durante 3 meses em temperaturas de frigorífico, o que facilita a sua distribuição pelo mundo.
• Eficácia contra o SARS-CoV-2
A eficácia desta vacina contra o novo coronavírus foi testada em ensaios clínicos em cerca 40.000 pessoas com 18 anos ou mais em vários países, incluindo Estados Unidos, México, Brasil e África do Sul. Cerca de metade recebeu a vacina, a outra metade recebeu um placebo e os dois grupos foram comparados.
Demonstrou ter 85% de eficácia na prevenção de formas graves de covid-19, o que é crucial porque é o que evita hospitalizações e mortes. Nenhuma pessoa vacinada morreu de covid-19 durante os testes. No grupo a quem foi administrado o placebo morreram sete pessoas.
A vacina também foi 66% eficaz na prevenção de formas moderadas a graves da doença. Este valor é uma média das percentagens registadas nos diferentes países: de 72% nos Estados Unidos, passou para 64% na África do Sul, onde uma variante (B.1.351) já era dominante na altura do ensaio clínico.
• Efeitos secundários
Os efeitos secundários mais comuns observados nos ensaios clínicos foram dor no local da injeção, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.
O laboratório norte-americano relatou no final de fevereiro pelo menos um caso de anafilaxia - uma reação alérgica grave - na África do Sul.
Estas reações, embora muito raras, também foram relatadas após as injeções das vacinas da Moderna e da Pfizer/BioNTech.
Nos Estados Unidos, o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC), recomenda que as pessoas que já tiveram reações alérgicas graves noutras ocasiões não tomem esta vacina.
A 9 de abril, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) anunciou que o seu Comité de Avaliação dos Riscos em Farmacovigilância (PRAC) iniciou uma revisão "para avaliar relatórios de eventos tromboembólicos [...] em pessoas que receberam a vacina Janssen / Johnson & Johnson contra a covid-19" nos Estados Unidos.
• Testes complementares
A farmacêutica norte-americana anunciou no início de abril que está a estudar o efeito de duas doses, em vez de apenas uma.
Alguns cientistas já expressaram reservas sobre o efeito dessa dose adicional, devido à técnica usada nesta vacina: o sistema imunitário poderá vir a reconhecer o vírus "veículo" injetado uma segunda vez e eliminá-lo antes de tempo.
A Johnson & Johnson também iniciou testes em adolescentes de 12 a 17 anos.
Vacinas contra a covid-19: as que estão a ser usadas e as que estão a caminho
Em menos de um ano desde que foi declarada a pandemia foram desenvolvidas várias vacinas em laboratórios por todo o mundo. A primeira vacina a obter autorização de emergência para inoculação foi a da Pfizer e BioNTech. O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar esta vacina e a iniciar a campanha de vacinação, em dezembro de 2020.
Links úteis
- Atualização semanal da execução do Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19
- ECDC - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas na Europa
- Universidade de Oxford - dados sobre evolução da vacinação contra a covid-19
- Bloomberg - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas no mundo
- London School of Hygiene & Tropical Medicine - gráfico que mostra o progresso dos projetos de vacinas
- Especial sobre o novo coronavírus / Covid-19
- Covid-19 DGS/Ministério da Saúde - mapa dos números
- Covid-19 DGS - relatórios de situação diários
- Linha SNS24
- Direção-Geral da Saúde (DGS)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças