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Opinião

Análise COP26: o poder da “25.ª hora”  

O prolongamento dos trabalhos pode indicar que um “grande acordo” é mesmo possível.

Análise COP26: o poder da “25.ª hora”  
YVES HERMAN/ REUTERS

O prolongamento dos trabalhos pode indicar que um “grande acordo” é mesmo possível. Mas o que, para já, fica da Cimeira de Glasgow são as tremendas contradições da emergência climática: todos concordam que “não há tempo a perder”, mas os adiamentos sucedem-se e os entendimentos, em vez de globais, são apenas parciais.

1 - QUE VALHA PENA A ESPERA

Há duas maneiras de olhar para o adiamento do fim da COP26 por mais um ou dois dias: por um lado podemos ver nisso o falhanço das grandes potências de encontrarem, durante 12 dias, soluções duradouras para um problema tão grave; por outro, podemos acreditar numa janela de oportunidade para um acordo significativo à “25.ª hora” – caso contrário não faria sentido que os trabalhos se prolongassem pelo fim de semana. Nos últimos dias circulou um “draft” de possível acordo que apontará para uma revisão de metas no corte de emissões já em 2022, numa proposta de atualização do Acordo de Paris. O mesmo “draft” prevê o caminho para a extinção do uso de carvão. Estudo do Gabinete Meteorológico Britânico aponta para que mil milhões de pessoas possam ser afetadas por uma "combinação fatal de calor e humidade" se as temperaturas até ao final do século subirem 2ºC em relação aos valores pré-industriais. Se o aumento alcançasse os 4°C, seria afetada "quase metade da população mundial". Também por isso, uma das declarações mais fortes destes 12 dias de COP26 é do ex-Presidente dos EUA, Barack Obama, num apelo aos jovens: Quero que continuem zangados, que continuem frustrados, se o que sair daqui não for satisfatório. Mas que canalizem essa raiva e usem essa frustração para insistir por mais e mais, porque é o que é preciso para vencer este desafio”.

2 - VOLTAR ÀS NEGOCIAÇÕES TODOS OS ANOS

A extrema dificuldade de se chegar ao “grande acordo” em Glasgow denota a necessidade de se passar a um comprometimento de atualização anual sobre a emergência climática. António Guterres, Secretário Geral da ONU, é claro: “Não tenhamos ilusões: se os compromissos forem insuficientes até ao final desta COP26, os países devem rever os seus planos e políticas climáticas nacionais. Não a cada cinco anos, mas todos os anos." Laurence Tubiana, a diplomata francesa que redigiu o acordo de Paris, disse ao “The Guardian” que o prazo é essencial para que o mundo não ultrapasse o seu limite de temperatura de 1,5 °. Agora chefe da European Climate Foundation, Tubiana insiste: “É muito importante que voltemos no próximo ano e em 2023. Isso deve ser fundamental para qualquer resultado em Glasgow. Isso é necessário para cumprir o acordo de Paris.”

3 - PELO MENOS 45% ATÉ 2030

O relatório do IPCC, uma espécie de preparação prévia da COP26, com alertas preocupantes, já o tinha apontado: é necessário reduzir pelo menos 45% das emissões poluentes até 2030 para manter possível a meta de limitar a 1,5 grau o aquecimento global em relação à era pré-industrial. Desde que o acordo de Paris foi assinado, obrigando os países a limitar os aumentos de temperatura "bem abaixo" de 2 ° C acima dos níveis pré-industriais, enquanto "buscam esforços" para um limite de 1,5 ° C, a nova ciência mostrou que falhar o limite de 1,5 ° C levaria a impactos desastrosos, alguns deles irreversíveis, incluindo a inundação de muitas áreas baixas. O aquecimento já atingiu 1,1 ° C e eventos extremos têm-se multiplicado um pouco por todo o mundo.

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