1 – “É UM COMPROMISSO, MAS NÃO É SUFICIENTE”
António Guterres, Secretário Geral da ONU, começou a COP26 com palavras muito duras e alarmistas (“estamos a cavar a nossa própria sepultura”) e terminou-a de forma um pouco mais branda, mas igualmente preocupante: “O acordo reflete os interesses, as contradições e o estado de vontade política do mundo hoje. É um passo importante, mas não é o suficiente. É hora de ligar o modo emergência".
Guterres demarca-se da falta de ambição dos líderes e junta-se à frustração dos jovens ativistas, que acusam os participantes da COP26 de atirarem as futuras gerações para a catástrofe climática: “Aos jovens, comunidades indígenas, líderes mulheres e todos os ativistas: sei que vocês estão desapontados, mas o caminho para o progresso nem sempre é uma linha reta. Às vezes há desvios e valas. Mas sei que conseguimos chegar lá. Estamos na luta das nossas vidas e essa luta deve ser vencida. Nunca desista nem recue, continue indo em frente. Estou convosco”.
2 – A AMÉRICA MAIS PERTO DO OTIMISMO QUE DA DECEÇÃO
Não foi um declarar vitória (porque ela não aconteceu), mas foi um reforçar de regresso dos EUA ao compromisso climático. John Kerry, enviado-especial do Presidente Biden para as alterações climáticas, afirmou que Glasgow aproximou o mundo "mais do que nunca" de "evitar o caos climático". “Essa conclusão não é um exagero.
O acordo aprofunda os compromissos e objetivos de Paris 2015”, lançou Kerry, para ainda reforçar: "Realmente acredito que, como resultado desta decisão e como resultado dos anúncios que foram feitos ao longo das últimas duas semanas, estamos na verdade mais perto do que nunca de evitar o caos climático e garantir um ar mais limpo, água mais segura e um planeta mais saudável".
3 – ÍNDIA E CHINA ESVAZIARAM AS GRANDES METAS
O caminho para a redução até 1,5 graus ainda é longo, mas não saiu comprometido. O financiamento da descarbonização dos mais pobres foi consagrado, mas também está longe de estar assegurado (100 mil milhões ainda é pouco).
Índia e China esvaziaram grandes metas no carvão e subsídios a combustíveis fósseis, embora não se tenham posto totalmente de lado. O texto estabelece a necessidade de redução global das emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, na comparação com 2010, e de neutralidade de libertação de CO2 até 2050.
Um dos maiores avanços foi a obrigação dos países renovarem objetivos todos os anos, em vez de ser apenas de cinco em cinco anos.
Para o ano, em Sharm el-Sheikh, há mais. Acreditemos, então, no que a COP27 nos possa oferecer. Não há alternativa.
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